quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Salvem Icaraí!

Ayrton Seixas
     
Não faz muito tempo que o saudoso maestro Sylvio Viana disse em uma de suas composições: “recanto azul de minha cidade”. Falava de Icaraí, de “lindas morenas”, que marcavam Icaraí como se fosse um pedaço de Paraíso. Hoje, a realidade é outra. As calçadas são ocupadas por motocicletas, cachorrinhos e cachorrões, sacos cheios de lixo e um morador de rua a cada esquina. Os ambulantes camelôs mudam de ponto, sob o olhar “tolerante” da guarda pretoriana municipal, que se reúne nas esquinas para discutir se o Fundo Monetário Internacional será afetado pela proliferação das lagartixas ou das pererecas que habitam o Campo de São Bento.     
         O azul dominante de outrora agora é escuro e companheiro de lixo urbano, garrafas pet e cascas de toneladas de côco vendidos nos fins de semana em toda a orla da praia e arredores.
         A feérica iluminação da harmoniosa arquitetura do antigo e famoso Cassino Icaraí virou uma “feira de amostras” de anexos aleatórios, que ignoram as tradições da arquitetura dos anos passados.
         De minha infância e adolescência, resta apenas lembrar do Campo de São Bento, do Cinema Icaraí, hoje um misterioso refúgio de fantasmas materializados pelo abandono e alimentado por demagógicas declarações políticas despidas de verdade.
       
  A centenária igrejinha da Boa Viagem foi “escondida” pela modernidade eufórica de um não identificado “disco voador” que intencionalmente a esconder para justificar milhões que foram gastos por coisa de custo até hoje nçao considerado alto. Que pena!
         Não quero ser chamado de saudosista, mas até hoje tenho dúvidas quanto à masculinidade rebolativa do “Zé Carioca” de Walt Disney e o patriotismo caboclo de Carmen Miranda, que transformoua baiana de Salvador em árvore de Natal “made in USA”. Alguém deve lembrar da bola pesada jogada em frente ao Clube Central e do navegador solitário, que brilhava com o médico de alta competência e atleta autêntico – Dr. Kastrupp.
         Termino fazendo um apelo aos jovens de hoje: - Salvem Icaraí. Nelson Rodrigues dizia que o único defeito da juventude é não ter passado. Está na hora de, enquanto deixarem, salvar o passado para garantirem uma velhice com saudade, mas felicidade por ter vivido.
         Se o que escrevi desagradou a alguns, peço desculpas. Os que recordarem tanta coisa com as minhas palavras, meu muito obrigado. Não mudarei mais minhas ideias, pois não tenho mais temores.


Ayrton Seixas é médico, psiquiatra, artista plástico e jornalista, e tem 80 anos.    

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