terça-feira, 1 de maio de 2018

"Quem fez minhas roupas?"


A jornalista Suzana Moura apresenta importantes reflexões sobre o mundo da Moda

A jornalista Suzana Moura (foto acervo pessoal)
A sociedade está baseada em uma lógica de produção e consumo acelerados. Somos estimulados o tempo inteiro à compra através do lançamento de novos produtos por uma perspectiva assustadora. O lucro e a satisfação pessoal chegam em primeiro lugar, deixando de lado questões relevantes como a responsabilidade social e ambiental.
A moda nos estimula como consumidores, com novas tendências e coleções a cada dia, e nos obriga a pensar que precisamos comprar desesperadamente, seja devido aos preços baixos ou apenas pelo simples fato de comprar. Além disso, outro fator caminha lado a lado com o consumo: a vida. Já parou para pensar em quem está do outro lado das vitrines? Quem são as pessoas que costuram as peças de alta costura tão desejadas e que permeiam as páginas de revista e as passarelas pelo mundo?
Uma tragédia em Bangladesh, na Ásia, no dia 24 de abril de 2013, ganhou os noticiários e trouxe à tona um tema ainda intocável, o trabalho escravo, aquele que lemos nos livros de história... Aquela prática que apesar da abolição internacional, ainda sobrevive como atividade ilegal que submete suas vítimas a abusos não tão diferentes daqueles dos feitores de antigamente.
Suzana Moura, Manoela Castro e Patricia Sant'anna
em roda conversa da Rio Fashion Revolution
(foto divulgação)
Assim nasceu o Fashion Revolution, movimento criado por líderes da indústria da moda sustentável que se uniram depois do desabamento do edifício Rana Plaza e que deixou 1.133 mortos e 2.500 feridos. Pessoas que se submetiam a trabalhar de forma abusiva e insalubre, pelo fato de não ter oportunidade. Essas são as pessoas que fazem as peças de grandes marcas e aquelas que compramos na “lojinha” e que custa “baratinho”. O movimento atua em mais de 90 países atualmente e tem seu grande momento de reflexão e conscientização, nos meses de abril, onde debates, palestras, eventos, e tantas outras manifestações vêm somar em prol da vida. Estamos na semana do Fashion Revolution Week e através de ações mostramos que é possível fazer uma moda justa.
Costumo sempre citar em meus bate papos, sejam informais ou não, o desabafo de uma grande amiga que trabalha no segmento da moda há quase 20 anos e em um determinado momento de sua carreira pensou: "Não quero mais fazer uma moda que deixa minhas mãos sujas de sangue!" O objetivo do Fashion Revolution é aumentar a conscientização sobre o verdadeiro custo da moda e seu impacto em todas as fases do processo de produção e consumo, mostrando ao mundo que a mudança é possível sim e que através da união dos envolvidos na criação de um futuro mais sustentável, conseguimos criar conexões exigindo transparência das marcas.
Com o slogan simples e direto "quem fez minhas roupas?", o movimento aborda temas relevantes e traz à tona uma realidade que não é mostrada, ao contrário, é ignorada. Fomentamos o debate para uma moda consciente, ética e humana. E você, já se fez essa pergunta?

Suzana Moura é jornalista com extensão em Marketing Digital e Assessoria de Imprensa e Comunicação. Está a frente do "Ainda Uso", canal de moda e comportamento consciente que discute o consumo e é a primeira assessoria de imprensa, comunicação e consultoria para empresas de cunho sustentável.


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