terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Um novo modelo de gestão para Niterói

O filósofo político Norberto Bobbio, teórico italiano que buscou durante toda sua vida combinar a defesa das liberdades individuais, da tradição liberal, com a defesa da justiça social e igualdade, da tradição socialista, num delicado mas necessário ponto de equilíbrio, escreveu em artigo sobre o sistema democrático, que a democracia contemporânea vive uma crise “de baixo rendimento”.

                A emancipação da sociedade civil, extraordinária conquista potencializada pelo advento das “redes sociais”, fez com que a “sociedade civil seja cada vez mais uma inesgotável fonte de demandas dirigidas ao governo, obrigado a dar respostas sempre adequadas”. Por outro lado, diante da rapidez e urgência com que são dirigidas as demandas dos cidadãos, esse fato “tornar-se contrastante com a lentidão dos complexos procedimentos do sistema político democrático (exigências de órgãos de controle externo, questionamentos do MP, leis de licenciamento ambiental, legislação e exigências para licitações públicas, audiências públicas do Legislativo), impostas aos gestores no momento de tomarem decisões adequadas”. Há, dessa forma, segundo Bobbio, uma enorme “defasagem entre o mecanismo da imissão e o mecanismo da emissão, o primeiro em ritmo sempre mais acelerado e o segundo em ritmo sempre mais lento”. Ou seja, exatamente ao contrário do que ocorre em regimes totalitários, que controlam as demandas pelo sufocamento da sociedade civil e efetivamente não observam os complexos procedimentos decisórios de um sistema democrático.

                Para aqueles que acreditam na democracia como proposta – apesar de suas contradições e limites – capaz de alavancar e promover as conquistas humanistas, culturais, ambientais, sociais, tão desejadas pela sociedade, é necessário redobrar atenção para construir política e tecnicamente as soluções necessárias à superação dos dilemas da “crise de desempenho”.

                Na administração da cidade, estamos buscando construir um novo caminho, com extraordinário esforço iniciado em 2013. Num primeiro momento, a prioridade evidentemente foi reorganizar as contas públicas, após anos de descontrole e irresponsabilidade fiscal. Extinguimos 20 órgãos municipais, reduzimos 35% dos cargos comissionados da Prefeitura, implantamos um duro ajuste fiscal, para superar a grave crise financeira com milhões de dívidas herdadas, segundo relatório do próprio TCE. Isso tudo sem prejudicar a prestação de serviços básicos, ao contrário, “fazendo mais com menos recursos”, e buscando cumprir os principais compromissos assumidos em praça pública, a reabertura da emergência pediátrica do Getulinho – que já atendeu 70 mil crianças desde 02/01/13, e a realização praticamente de toda obra do “mergulhão” da Marques do Paraná, entregue em 22/11/13, após alguns anos de muito transtorno para a vida dos cidadãos.

                Desde o início de janeiro desse ano, pela primeira vez todo sistema orçamentário, financeiro e contábil dos órgãos da Prefeitura de Niterói estão integrados e informatizados em um sistema e-cidade, possibilitando maior eficiência, transparência e integração das políticas públicas. Com apoio do Centro de Processamento de Dados do RJ – PRODERJ e do BNDES, a partir do segundo semestre de 2013, técnicos da Prefeitura trabalharam muito para tornar realidade agora a implantação dessa plataforma tecnológica capaz de colocar definitivamente a administração pública municipal no século XXI, propiciando melhor rendimento na prestação de serviços à exigente sociedade niteroiense. Em breve, servidores poderão acessar eletronicamente contracheques e IRF, cidadãos poderão fazer o mesmo para certidões que hoje demandam tempo e desgaste desnecessários. A tramitação de processos para execução das ações reduzirá drasticamente e poderemos avançar mais do que estabelece a própria “Lei da Transparência”.

                Se a modernização da gestão pública é o caminho inevitável para consolidação democrática e melhoria da qualidade de vida, a participação – virtual ou presencial – dos cidadãos é cada vez mais importante. Não é possível concretizar todas demandas sociais em um ano e nem em um governo, portanto, é indispensável a construção de espaços permanentes de escuta e diálogo da sociedade civil para hierarquização de prioridades, para pactuação de planejamento e metas que contemplem os diversos setores e regiões da cidade.

                E temos feito isso, com a retomada dos Conselhos e Conferências Municipais, pela presença inédita de gestores e do poder público municipal nessa “Ágora virtual” que são as redes sociais, além de outros mecanismos de participação social. Especificamente em 2014, através do Programa “Niterói que Queremos”, os cidadãos e entidades da sociedade civil são convidados a participar, sugerir e influir nas decisões de curto, médio e longo prazo para cidade. Seja pelo site www.niteroiquequeremos.com.br ou pelos Congressos Municipais que serão realizados entre março e junho, vamos estabelecer as próximas metas da cidade, através de um respeitoso e profícuo diálogo entre a sociedade civil e o poder público.

                Nossa cidade pela primeira vez contará com um Plano Estratégico, e mais importante ainda, com um Plano Estratégico Participativo. Dessa forma, acredito, estamos construindo uma Niterói melhor, democrática, moderna, sustentável, com a qualidade de vida que desejamos para todos nós e para nossos filhos.


Rodrigo Neves
37 anos, sociólogo, prefeito de Niterói


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