quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Cubango homenageia Luiz Gama e sua luta pela Liberdade


Força do enredo e do samba são os pontos fortes da agremiação para lutar pelo título
Fotos e Texto: Luana Dias
"Eu sou a Voz da Liberdade!". Quem esteve presente nos ensaios técnicos de rua da Acadêmicos do Cubango, realizados há mais de dois meses na avenida Amaral Peixoto, em Niterói, pôde ver e ouvir a evolução da força dos versos do refrão da verde-e-branca sendo cantado pelos mais de 1500 componentes da agremiação. O canto e a evolução de sua comunidade, aliados ao belo e valente samba-enredo e ao tema escolhido para ser apresentado são as apostas que a escola faz para lutar pelo tão sonhado título da Série A.
Rainha Maryanne Hipólito
Para o Carnaval 2020, a Cubango irá homenagear uma das maiores lideranças abolicionistas do Brasil: Luiz Gama. Jornalista, escritor, advogado, ele é considerado uma das vozes mais atuantes na luta pela libertação dos escravos e abolição da escravatura no país. Autodidata, Luiz Gama conseguiu sua liberdade aos 17 anos, e mesmo sem ter cursado uma faculdade de Direito, se inseriu no difícil ramo da advocacia, sendo responsável pela libertação de mais de 500 escravos. Apenas em 2015, 133 anos após sua morte, Luiz Gama recebeu oficialmente o título da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) reconhecendo-o oficialmente como advogado. E em 2018, foi proclamado Patrono da Abolição da Escravidão no Brasil.
Raphael Torres, carnavalesco da
Acadêmicos do Cubango, fala sobre
surpresas 
Por dentro do desfile
A Acadêmicos do Cubango promete causar impacto já no início do desfile, com uma Comissão de Frente coreografada por Patrick Carvalho - o mesmo que arrancou lágrimas da Sapucaí, em 2018, com a encenação criada para a Paraíso do Tuiuti. Mantida em total segredo, a comissão vem realizando ensaios durante as madrugadas no Sambódromo.
Já o abre-alas - a maior alegoria em extensão da escola - fará alusão aos ancestrais de Luiz Gama, mais especificamente à mãe Luisa Mahin, rainha africana, com suas origens no Benin, e escravizada no Brasil. Ela foi uma das maiores lideranças da revolta dos Malês, que é tema do segundo carro da agremiação.
"Muitos perguntam o que tem a ver a revolta que aconteceu na Bahia, com Luiz Gama? Tem tudo a ver porque a mãe teve de fugir após a revolta, e precisou deixar Luiz Gama com o pai; e o jovem menino acabou sendo escravizado. Sua trajetória é extremamente importante para entendê-lo com líder na luta pela liberdade", conta Raphael Torres, um dos carnavalescos da escola. Ele assina o enredo com Alexandre Rangel; a dupla trabalha junto há 12 anos.
Renan: responsabilidade ao auxiliar no comando da bateria
Ainda na segunda alegoria da escola, haverá teatralização, simulando uma luta entre Malês e soldados. Outra dica revelada pelo carnavalesco é a de que os espectadores fiquem de olho nos canhões do carro, que contarão com efeitos especiais.
O terceiro setor da escola será aberto com um suntuoso tripé, que representará o trabalho escravo, com os "trabalhos de ganho", que vendiam mercadoria, e viviam "soltos", mas tinham de entregar o resultado de suas vendas aos seus senhores.
Detalhe do barracão da escola

Para encerrar o desfile, o quarto setor irá trazer uma homenagem à Luiz Gama, com o ator Déo Garcez - que interpreta o personagem nos teatros - dando vida ao líder, como destaque central do carro alegórico. Símbolos da justiça também estarão presentes
Por último, vale a pena ficar ligado na bateria, comandada por Mestre Demétrius: os desenhos, bossas e paradinhas da Ritmo Folgado devem incendiar o público e os componentes. Ao lado do mestre, com  1,47m e apenas 10 anos, Renan Beraldi irá exercer uma função de "gente grande": ele é diretor de bateria da Acadêmicos do Cubango. Para o Carnaval 2020, a responsabilidade de Renan será dobrada: além de ajudar a conduzir os ritmistas da Cubango, ele será protagonista de uma encenação que acontecerá no "coração" da bateria.
Cubango será a quinta agremiação a se apresentar na Sapucaí, na sexta-feira de Carnaval.

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