Música, câmera, paixão! Só faltou uma instalação audiovisual exibindo imagens de cinemas de rua
ou algum filme-homenagem como o clássico “Cine Paradiso”, de Giuseppe Tornatore,
para que o “Abraço ao Cine Icaraí” fosse ainda mais emocionante. O evento organizado
pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), neste sábado, dia 18 de agosto,
em frente à bela praia de Icaraí, tinha como objetivo mostrar ao poder público
que os niteroienses não esqueceram o cinema que foi um dos mais importantes da
cidade. Valério Júnior, presidente do Núcleo Leste Metropolitano do IAB-RJ, reafirma
a importância do edifício para a memória arquitetônica de Niterói: “Essa é a
única construção original de artdeco
que nós temos, já que o prédio da reitoria da UFF, outro exemplar, foi
modificado. Não podemos perder esse símbolo que está no imaginário
niteroiense”. O movimento de abraçar um patrimônio ameaçado é orientação do
núcleo nacional e acontece em diversas cidades do Brasil. Valério lembra que
mesmo tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e estando
na administração federal, através da UFF, o Cine Icaraí segue em perigo porque
não está em uso. “Eu vi muitos filmes aqui, esse cinema tem história, é um
espaço que toca o imaginário das pessoas e tem que ser preservado”, diz o
organizador do evento.
História, cinema
e preservação são palavras importantes para a arquiteta Deborah Pimentel que
estava no evento como secretária-executiva do IAB-RJ e também como cinéfila. “A
minha juventude foi toda aqui e esse espaço guarda a memória afetiva de várias
gerações. A arquitetura não se dedica só a construir. É preciso preservar o
patrimônio público e o Cine Icaraí é público, porque foi comprado com dinheiro
público e repassado para a administração da UFF. Temos que mostrar que a
sociedade quer esse bem público de volta”. Deborah sente saudades da época em
que ir ao cinema era parte de uma diversão que envolvia a praça pública e o
contato direto entre as pessoas: “Hoje é tudo pela internet. O primeiro filme
que vi aqui foi Menino do Rio, não esqueço, tinha a trilha da Baby Consuelo”,
finaliza saudosa.
Quem não esquece
o último filme que assistiu no cinema é Cauê Machado, músico integrante da Orquestra
Sinfônica Ambulante, que deu o ritmo e ajudou a esquentar o evento na manhã
fria de sábado. “Eu vi Titanic aqui e por isso tocamos a música tema do filme
para relembrar um pouco essa história”. E história é o que não falta para unir o
cinema com o grupo musical. “Os nossos primeiros ensaios aconteceram aqui na
praça, em frente ao cinema, em 2011. Esse local é importante para nós e tocar
na reinauguração do cinema seria uma honra”. “Reinauguração?” Ao fim do evento,
Luna Hahnemann já estava de saída quando ouviu a palavra mágica na nossa
entrevista, não resistiu em querer saber mais e depois das explicações revelou
que é uma apaixonada pelo cinema. “Ah, se ele voltasse eu viria aqui sempre! Eu
viria aqui para ver filmes e também comer pipoca. Só passar na frente já seria
uma emoção. O cheiro de madeira da sala de espera é inesquecível. Sonhos de uma
vida foram construídos dentro desse cinema. Eu tenho uma relação celular com o
Cine Icaraí”. Luna também não esquece o primeiro filme que viu no cinema: “Barry
Lyndon, do Stanley Kubrick, magistral”.
Magistral. Essa palavra certamente estaria no título de uma reportagem sobre a reinauguração do Cine Icaraí e com a Orquestra Sinfônica Ambulante tocando trilhas famosas da Sétima Arte. Seria um presente e tanto para os cinéfilos de Niterói. Daria um filme...
* Cineasta e jornalista, Christian Jafas escreve
sobre cinema desde 2002 quando criou o blog “Imagem em Movimento”. Já atuou
como crítico do site Almanaque Virtual participando da cobertura do Festival do
Rio. Dirigiu o documentário “Cine Paissandu: histórias de uma geração” sobre o
lendário cinema que formou a Geração Paissandu nos anos 60 e marco de
resistência contra a ditadura.
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