Christian Jafas *
Inaugurado em 20
de janeiro de 1945, o Cine Icaraí, localizado na Av. Jornalista Alberto
Francisco Torres, no bairro de Icaraí, Niterói, foi o último dos cinemas de rua
da cidade a serrar as portas. Marco de resistência dos cinéfilos, o prédio em
estilo art déco tardio ainda chama a
atenção de quem passa em frente à Praça Getúlio Vargas, na orla de Icaraí. Com
capacidade para 811 lugares divididos entre plateia e balcão, o cinema ocupa
dois dos quatro andares do edifício e esteve ativo até 2006 quando o Grupo
Severiano Ribeiro, então administrador, resolveu interromper a programação e
fechar as portas. O edifício foi tombado pelo Instituto Estadual de Patrimônio
Cultural (INEPAC) e foi transferido para a Universidade Federal Fluminense
(UFF) em 2011. A UFF tem um projeto de reformar o prédio e instalar um centro
cultural que também será a sede da Orquestra Sinfônica Nacional (OSN-UFF), mas
por falta de recursos o projeto segue parado e o Cine Icaraí continua apenas na
memória dos saudosos amantes da Sétima Arte.
As razões para a
bancarrota dos cinemas de rua e a migração para os shoppings seguem listadas a
cada nova reportagem sobre o tema: a violência urbana, a falta de
estacionamento em cidades cada vez mais dependentes do transporte particular e
a comodidade gerada pela concentração de serviços como lojas, restaurantes,
bares e bancos no mesmo local.
Levantamento realizado em 2010 pela Agência
Nacional do Cinema (Ancine) mostra que das 269 salas de cinema em atividade no
estado do Rio de Janeiro, apenas 65 se localizavam fora de shoppings. Nos
últimos anos, outro fator entrou em cena com a popularização dos serviços de
filmes on demand, como o Netflix e o
Now!,e o crescente consumo de vídeos na internet. Os jovens não precisam sair
de casa para ter acesso aos lançamentos hollywoodianos ou mesmo para ver
produções menos conhecidas, já que tudo está disponível em um clique.
Enquanto os
cinéfilos aguardam ansiosamente a reinauguração do novo Cine Icaraí, é possível
fazer uma viagem ao passado através do livro “Cinematographo em Nictheroy:
História das salas de cinema de Niterói”, de Rafael De Luna Freire, professor
do curso de Cinema e Audiovisual da UFF. Com uma pesquisa minuciosa, o texto
nos leva ao tempo das primeiras lanternas mágicas, passa pelos suntuosos
palácios dos anos 20 e 30, mas sem esquecer os tradicionais “poeiras”.
Diversos
cineastas também fizeram homenagens ao cinema de rua em filmes como “Cine
Paradiso”, de Giuseppe Tornatore, “Cine Majestic”, de Frank Darabont, “O Último
Cine Drive-in”, de Iberê Carvalho, e “O filme da minha vida”, de Selton Mello. Agora
é só passar numa locadora e assistir no fim de semana. Opa, locadora? Isso é
assunto para outro texto.
* Cineasta e jornalista, Christian Jafas escreve
sobre cinema desde 2002 quando criou o blog “Imagem em Movimento”. Já atuou
como crítico do site Almanaque Virtual participando da cobertura do Festival do
Rio. Dirigiu o documentário “Cine Paissandu: histórias de uma geração” sobre o
lendário cinema que formou a Geração Paissandu nos anos 60 e marco de
resistência contra a ditadura.
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