Luana Dias
« Penso
nos malabaristas do sinal vermelho,
que nos vidros fechados dos carros, descobrem quem são ». Os versos da música de João
Bosco são a introdução perfeita para contar a história deste jovem de 25 anos
que escolheu a esquina da rua Visconde de Sepetiba com Amaral Peixoto, no
Centro de Niterói, como seu palco diário. Wellington Batista, também conhecido
como Palhaço Pimpinela – nome artístico que inventou após ser abordado por um de
seus espectadores – é o malabarista que há 4 anos se apresenta nas ruas de
Niterói.
Morador
da comunidade do Jacaré, na Zona Norte do Rio de Janeiro, o artista atravessa
de terça à sabado a Baía de Guanabara, onde das 9h às 16h se apresenta com uma pausa de apenas uma hora para o
almoço :
«
Resolvi trabalhar aqui nas ruas de Niterói porque o pessoal é mais generoso,
simpático, e também porque tem menos concorrência do que no Rio de
Janeiro ».
Wellington iniciou-se nos malabares com
apenas 12 anos, com outras crianças e adolescentes que jogavam bolinhas nas
ruas do Leblon. Viu ali uma oportunidade para aprender um ofício criativo e
fugir de um futuro no tráfico de drogas. Sem dinheiro, ele começou a treinar
com dois limões : passava o dia do lado dos outros meninos e aprendia a
técnica apenas na base da observação.
Hoje,
seus instrumentos de trabalho são cinco bolas de tênis que ele – fantasiado e
maquiado como seu personagem de palhaço – equilibra em cima de um banco de
madeira, em frente aos carros, motos e ônibus que param ali. Como o sinal fica
fechado por apenas um minuto, sua apresentação dura em média 40 segundos e o
tempo que resta é para passar o chapéu. Depois, tem apenas um minuto de
descanso por enquanto os carros passam no sinal verde, para recomeçar o mesmo
número em frente a outros « espectadores ». Ao todo, são cerca de 150
minutos de apresentação por dia, entre idas e voltas:
« O
segredo é ter empatia com o público, estar sempre bem, com disposição e
concentrado. A ideia do chapéu é para evitar que as pessoas vejam minhas mãos,
que ficam sujas por conta do contato com as bolinhas, que quicam no asfalto »,
conta o artista.
« Estava
me apresentando, quando uma pessoa se aproveitou e roubou o saco plástico onde
guardava minhas moedas, que estava pendurado numa árvore. Fiquei muito
chateado ; não era muito mas era o meu trabalho de um dia inteiro »,
desabafa.
Por
enquanto, o único lugar onde Wellington se apresenta é nas ruas, mas seu sonho
é mais alto: conseguir uma bolsa de estudos numa Escola de Circo, e assim
poder desenvolver mais seus conhecimentos na arte e até se apresentar num
picadeiro. O jovem – que deixou a escola no 5o ano do ensino fundamental –
mantém viva a esperança de que um dia o seu destino irá cruzar com esta chance,
talvez na mesma esquina da rua em que ele se apresenta todos os dias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário