sábado, 20 de julho de 2013

A arte no sinal vermelho

Luana Dias

« Penso nos malabaristas do sinal vermelho, que nos vidros fechados dos carros, descobrem quem são ». Os versos da música de João Bosco são a introdução perfeita para contar a história deste jovem de 25 anos que escolheu a esquina da rua Visconde de Sepetiba com Amaral Peixoto, no Centro de Niterói, como seu palco diário. Wellington Batista, também conhecido como Palhaço Pimpinela – nome artístico que inventou após ser abordado por um de seus espectadores – é o malabarista que há 4 anos se apresenta nas ruas de Niterói.
Morador da comunidade do Jacaré, na Zona Norte do Rio de Janeiro, o artista atravessa de terça à sabado a Baía de Guanabara, onde das 9h às 16h se apresenta com uma pausa de apenas uma hora para o almoço :
« Resolvi trabalhar aqui nas ruas de Niterói porque o pessoal é mais generoso, simpático, e também porque tem menos concorrência do que no Rio de Janeiro ».  
         Wellington iniciou-se nos malabares com apenas 12 anos, com outras crianças e adolescentes que jogavam bolinhas nas ruas do Leblon. Viu ali uma oportunidade para aprender um ofício criativo e fugir de um futuro no tráfico de drogas. Sem dinheiro, ele começou a treinar com dois limões : passava o dia do lado dos outros meninos e aprendia a técnica apenas na base da observação.
Hoje, seus instrumentos de trabalho são cinco bolas de tênis que ele – fantasiado e maquiado como seu personagem de palhaço – equilibra em cima de um banco de madeira, em frente aos carros, motos e ônibus que param ali. Como o sinal fica fechado por apenas um minuto, sua apresentação dura em média 40 segundos e o tempo que resta é para passar o chapéu. Depois, tem apenas um minuto de descanso por enquanto os carros passam no sinal verde, para recomeçar o mesmo número em frente a outros « espectadores ». Ao todo, são cerca de 150 minutos de apresentação por dia, entre idas e voltas:
« O segredo é ter empatia com o público, estar sempre bem, com disposição e concentrado. A ideia do chapéu é para evitar que as pessoas vejam minhas mãos, que ficam sujas por conta do contato com as bolinhas, que quicam no asfalto », conta o artista.
        
Com as contribuições que recebe nas ruas, Wellington sustenta a família formada pela mãe e quatro irmãos, além de ajudar na criação da sua filha de 4 anos. Um dos maiores orgulhos é de ter conseguido construir a casa onde mora com o seu trabalho. O jovem – que um dia sonhou em ser jogador de futebol e chegou a vender empadas – achou seu caminho na arte de rua, aprendendo a driblar os perigos. De risco de atropelamento à divisão do espaço urbano com usuários de drogas, Wellington chegou até a ser furtado :
« Estava me apresentando, quando uma pessoa se aproveitou e roubou o saco plástico onde guardava minhas moedas, que estava pendurado numa árvore. Fiquei muito chateado ; não era muito mas era o meu trabalho de um dia inteiro », desabafa.
Por enquanto, o único lugar onde Wellington se apresenta é nas ruas, mas seu sonho é mais alto: conseguir uma bolsa de estudos numa Escola de Circo, e assim poder desenvolver mais seus conhecimentos na arte e até se apresentar num picadeiro. O jovem – que deixou a escola no 5o ano do ensino fundamental – mantém viva a esperança de que um dia o seu destino irá cruzar com esta chance, talvez na mesma esquina da rua em que ele se apresenta todos os dias.   

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