sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Walter Salles é um dos homenageados no Lisbon & Sintra Film Festival

Além dele, realizadores queridos do público cinéfilo presentes em corpo e filmes no reconhecido festival português


Por Cristiana Giustino*

Parece que foi ontem, mas já se passaram 20 anos do lançamento do aclamado Central do Brasil. Este e mais sete filmes de Walter Salles serão exibidos no Leffest – Lisbon & Sintra Film Festival – que chega a sua 12ª edição. O público poderá rever marcantes títulos do diretor, como Terra Estrangeira (1995), Abril Despedaçado (2001) e Diários de Motocicleta (2004).

O Leffest exibe mais de 160 filmes entre os dias 16 a 25 deste mês, ocupando espaços das cidades de Lisboa e Sintra. Além de mostra competitiva, seleção oficial e retrospectivas, há mostras fotográficas, ciclos de debates e lançamento de livro.

Sessões disputadas

Dentre os títulos que certamente terão sessões concorridas estão Beautiful Boy, com Steve Carell e Timothée Chalamet (de Me Chame Pelo Seu Nome), inspirado no best-seller autobiográfico do jornalista David Sheff, que conta a história do seu filho, viciado em drogas; Roma, de Alfonso Cuáron, vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, em que o realizador mexicano evoca sua infância através da história de uma família da classe média do bairro de Roma, na Cidade do México dos anos 1970.

 Roma, baseado nas lembranças de infância do diretor

Também disputados o drama familiar L'Homme Fidèle, de Louis Garrel, com ele e Lily-Rose Depp (The Dancer); Vox Lux, de Brady Corbet (ator de Melancolia), com Natalie Portman e Jude Law, sobre a trajetória de uma cantora pop sobrevivente de um massacre; Blaze, de Ethan Hawke, filme biográfico sobre o músico country Blaze Foley; o provocativo The House That Jack Built, de Lars von Trier, sobre um serial killer e seus crimes ao longo de 12 anos.

Vox Lux, possível indicado ao Oscar 2019

Da Itália vem dois destaques. O siciliano Luca Guadagnino, diretor do oscarizado Me Chame Pelo Seu Nome, apresenta o remake de Suspiria, clássico filme de terror dos anos 1970 realizado por Dario Argento. Na nova versão temos Tilda Swinton (de Grand Hotel Budapest), Dakota Johnson (da saga Cinquenta Tons) e Chloë Grace Moretz (de Lugares Escuros). A trilha sonora é de Thom Yorke, do Radiohead. Ou seja, o filme tem tudo para virar um novo cult. Do napolitano Paolo Sorrentino vem Silvio e os Outros, ficção sobre um ambicioso jovem cuja meta é mudar-se para Roma e chegar perto de Berlusconi por meio do tráfico de mulheres.

O novo Suspiria, de Guadagnino

Modesta presença brasileira

Não fosse pela homenagem a Walter Salles, a presença do Brasil no Leffest’18 passaria quase desapercebida. O destaque é o novo filme de Júlio Bressane, o surrealista Sedução da Carne, em que Mariana Lima é uma viúva que conversa com o seu papagaio e é observada por uma grande porção de carne crua.

Sedução da Carne: metáfora da árdua realidade da 
agricultura no Brasil

Como reflexo da guinada global ao populismo de direita, acontece o Ciclo temático “Neoliberalismo: A Semente do Populismo e dos Novos Fascismos?”, em que o Brasil também está presente com a exibição do média-metragem Blábláblá (1968), de Andrea Tonacci, que apresenta os momentos de tensão de três pessoas durante a ditadura civil-militar do Brasil: um político, um revolucionário e um cidadão comum.

Há ainda na programação do Leffest’18 três coproduções das quais o Brasil faz parte: As Herdeiras, de Marcelo Martinessi, sobre o drama de um casal de mulheres que se vê subitamente separado em consequência de problemas financeiros; Rojo, de Benjamin Naishtat, thriller sobre o drama de um advogado bem-sucedido na Argentina da década de 1970; e Caminhos Magnetykos, de Edgar Pêra, com a participação de Ney Matogrosso.

As Herdeiras, coprodução de seis países, dentre os quais 
Brasil e Paraguai

Retrospectivas e Homenagens

O Leffest destaca a obra de David Lynch, o icónico realizador norte-americano conhecido por filmes como Mulholland Drive e a série de TV Twin Peaks. Serão exibidos alguns dos seus trabalhos ao longo dos últimos doze anos. Lynch tem um lado fotógrafo – bem, em tese, todo diretor de cinema tem um “lado fotógrafo”, mas poucos o expressam em exposições de quadros únicos – e o Leffest apresenta duas mostras: Small Stories, com suas fotografias, e Psychogenic Fugue, sobre sua obra. Será lançado também o livro Espaço para Sonhar, que Lynch assina com a escritora Kristine McKenna.

Além de Salles e Lynch, também há retrospectivas dedicadas ao britânico Mike Leigh, Paul Schrader, Mario Martone, Darezhan Omirvayev e ao português João Botelho.

*Cristiana Giustino é gestora e produtora cultural



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