domingo, 12 de outubro de 2014

Correndo pela vida - Só se for para entrar no vestido à noite…

Por Ronaldo Arino

Final de inverno, Rio de Janeiro, sábado, 13 horas. Dia quente e ensolarado e uma moça vestida com agasalho de nylon e uma calça colante ao corpo corria pela ciclovia da Lagoa Rodrigo de Freitas. Primeira coisa que pensei: “só se for para entrar no vestido à noite”. Por puro desconhecimento esta atitude é prejudicial à saúde, podendo ter como consequências uma desidratação e/ou uma hipertermia.
Este artifício é muito utilizado, por exemplo, pelos lutadores de boxe quando da pesagem oficial que antecede as lutas. Para se manterem dentro do peso de suas categorias fazem exercícios nos dias anteriores com casacões de nylon para emagrecerem rapidamente. Este emagrecimento não é saudável porque se dá as custas de perda de água.
A prática de atividade física em ambientes com altas temperaturas é extremamente comum em nosso país. No verão, mesmo nos horários mais amenos, ao amanhecer, os termômetros já estão marcando temperaturas altas. Imaginem correr no horário do almoço em qualquer estação no Rio de Janeiro. “É dar sorte para o azar”, concordam?
O nosso corpo precisar “respirar” e, desde que se utilize a vestimenta adequada podemos suportar as temperaturas altas melhor porque permitimos que ele utilize todos os mecanismos fisiológicos de perda de calor. Um desses mecanismos é o de perda de calor por evaporação.
Quando fazemos alguma atividade física o nosso metabolismo aumenta, com consequente aumento da temperatura interna. Na realidade, o nosso corpo não suporta grande variações de temperatura. Internamente ela corre na faixa entre os 36 e 40°C. Acima disso pode ocorrer uma hipertermia, que se não for tratada a tempo, pode ser fatal. Abaixo dos 36° já corremos risco da hipotermia que, da mesma forma, também é grave.
Portanto, esta temperatura produzida em nosso organismo tem que dele sair de alguma forma, se não corremos risco de ter uma hipertermia e desidratação graves. São utilizados quatro mecanismos para atingir este objetivo:
Irradiação – todos os corpos fornecem calor para aqueles com temperatura mais baixa através de ondas eletromagnéticas;
Condução – é a perda de calor para outros corpos que estejam em contato, como as roupas utilizadas durante a prática do exercício físico e as molecular de ar que rodeiam o corpo do atleta;
Convecção - é a remoção de calor através da corrente de ar. Quando praticamos uma atividade física o deslocamento faz com que entremos em contato sempre com novas partículas de ar, ainda não saturadas, permitindo uma troca contínua da temperatura corporal com as moléculas de ar.
Evaporação - é o fenômeno em que átomos e moléculas em estado líquido (suor) ganham energia suficiente para passar ao estado vapor. Este mecanismo é mais facilitado em dias que a umidade relativa do ar não esteja muito alta, já que, nesta situação, menos partículas de ar estarão suturadas, possibilitando a troca de calor, assim como roupas que expõe a transpiração possibilitando a sua evaporação.
Então amigos, o que poderia pensar depois disso tudo sobre aquela moça? Só se fosse para entrar no vestido à noite e poder ir na festa tão esperada, sem saber que importantes consequências à sua saúde poderiam ocorrer.
  • Use roupas adequadas para a prática de atividade física, aquelas que permitem que o suor entre em contato com o ar ambiente e se evapore;
  • Durante os treinos e provas beba de 100 a 200 ml de água cada 15 min ou em todos os posto de hidratação.
  • Em treinos e provas maiores de 10 km ou 1h de duração, beba 200 ml de isotônico a cada 15 ou 20 minutos para repor o sódio perdido com o suor.
  • Sempre que possível observe os outros corredores, preste e solicite ajuda quando necessário.
  • Realize atividade física sempre com orientação profissional.
  • Use sempre óculos escuros.
  • Use o protetor solar e o boné.
  • Respeite o seu corpo e aprenda com os sinais que ele lhe dá.

Dr. Ronaldo Arino é médico, coordenador de projetos na área de Saúde Ocupacional na Femptec - Fundação de Empreendimentos, Pesquisa e Desenvolvimento Institucional, Científico e Tecnológico do Rio de Janeiro e Diretor da WSO – medicina executiva. Ele também é Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e assina o blog Correndo pela vida – www.correndopelavida.com.br

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