terça-feira, 14 de agosto de 2018

Enquanto esperamos o Cine Icaraí...


Christian Jafas *

Inaugurado em 20 de janeiro de 1945, o Cine Icaraí, localizado na Av. Jornalista Alberto Francisco Torres, no bairro de Icaraí, Niterói, foi o último dos cinemas de rua da cidade a serrar as portas. Marco de resistência dos cinéfilos, o prédio em estilo art déco tardio ainda chama a atenção de quem passa em frente à Praça Getúlio Vargas, na orla de Icaraí. Com capacidade para 811 lugares divididos entre plateia e balcão, o cinema ocupa dois dos quatro andares do edifício e esteve ativo até 2006 quando o Grupo Severiano Ribeiro, então administrador, resolveu interromper a programação e fechar as portas. O edifício foi tombado pelo Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (INEPAC) e foi transferido para a Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2011. A UFF tem um projeto de reformar o prédio e instalar um centro cultural que também será a sede da Orquestra Sinfônica Nacional (OSN-UFF), mas por falta de recursos o projeto segue parado e o Cine Icaraí continua apenas na memória dos saudosos amantes da Sétima Arte.
As razões para a bancarrota dos cinemas de rua e a migração para os shoppings seguem listadas a cada nova reportagem sobre o tema: a violência urbana, a falta de estacionamento em cidades cada vez mais dependentes do transporte particular e a comodidade gerada pela concentração de serviços como lojas, restaurantes, bares e bancos no mesmo local.
Levantamento realizado em 2010 pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) mostra que das 269 salas de cinema em atividade no estado do Rio de Janeiro, apenas 65 se localizavam fora de shoppings. Nos últimos anos, outro fator entrou em cena com a popularização dos serviços de filmes on demand, como o Netflix e o Now!,e o crescente consumo de vídeos na internet. Os jovens não precisam sair de casa para ter acesso aos lançamentos hollywoodianos ou mesmo para ver produções menos conhecidas, já que tudo está disponível em um clique.
Enquanto os cinéfilos aguardam ansiosamente a reinauguração do novo Cine Icaraí, é possível fazer uma viagem ao passado através do livro “Cinematographo em Nictheroy: História das salas de cinema de Niterói”, de Rafael De Luna Freire, professor do curso de Cinema e Audiovisual da UFF. Com uma pesquisa minuciosa, o texto nos leva ao tempo das primeiras lanternas mágicas, passa pelos suntuosos palácios dos anos 20 e 30, mas sem esquecer os tradicionais “poeiras”.
Diversos cineastas também fizeram homenagens ao cinema de rua em filmes como “Cine Paradiso”, de Giuseppe Tornatore, “Cine Majestic”, de Frank Darabont, “O Último Cine Drive-in”, de Iberê Carvalho, e “O filme da minha vida”, de Selton Mello. Agora é só passar numa locadora e assistir no fim de semana. Opa, locadora? Isso é assunto para outro texto.

* Cineasta e jornalista, Christian Jafas escreve sobre cinema desde 2002 quando criou o blog “Imagem em Movimento”. Já atuou como crítico do site Almanaque Virtual participando da cobertura do Festival do Rio. Dirigiu o documentário “Cine Paissandu: histórias de uma geração” sobre o lendário cinema que formou a Geração Paissandu nos anos 60 e marco de resistência contra a ditadura.

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