segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Cine Icaraí, um caso de amor com Niterói

Texto e fotos: Christian Jafas*

Música, câmera, paixão! Só faltou uma instalação audiovisual exibindo imagens de cinemas de rua ou algum filme-homenagem como o clássico “Cine Paradiso”, de Giuseppe Tornatore, para que o “Abraço ao Cine Icaraí” fosse ainda mais emocionante. O evento organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), neste sábado, dia 18 de agosto, em frente à bela praia de Icaraí, tinha como objetivo mostrar ao poder público que os niteroienses não esqueceram o cinema que foi um dos mais importantes da cidade. Valério Júnior, presidente do Núcleo Leste Metropolitano do IAB-RJ, reafirma a importância do edifício para a memória arquitetônica de Niterói: “Essa é a única construção original de artdeco que nós temos, já que o prédio da reitoria da UFF, outro exemplar, foi modificado. Não podemos perder esse símbolo que está no imaginário niteroiense”. O movimento de abraçar um patrimônio ameaçado é orientação do núcleo nacional e acontece em diversas cidades do Brasil. Valério lembra que mesmo tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e estando na administração federal, através da UFF, o Cine Icaraí segue em perigo porque não está em uso. “Eu vi muitos filmes aqui, esse cinema tem história, é um espaço que toca o imaginário das pessoas e tem que ser preservado”, diz o organizador do evento.

História, cinema e preservação são palavras importantes para a arquiteta Deborah Pimentel que estava no evento como secretária-executiva do IAB-RJ e também como cinéfila. “A minha juventude foi toda aqui e esse espaço guarda a memória afetiva de várias gerações. A arquitetura não se dedica só a construir. É preciso preservar o patrimônio público e o Cine Icaraí é público, porque foi comprado com dinheiro público e repassado para a administração da UFF. Temos que mostrar que a sociedade quer esse bem público de volta”. Deborah sente saudades da época em que ir ao cinema era parte de uma diversão que envolvia a praça pública e o contato direto entre as pessoas: “Hoje é tudo pela internet. O primeiro filme que vi aqui foi Menino do Rio, não esqueço, tinha a trilha da Baby Consuelo”, finaliza saudosa. 
 Quem não esquece o último filme que assistiu no cinema é Cauê Machado, músico integrante da Orquestra Sinfônica Ambulante, que deu o ritmo e ajudou a esquentar o evento na manhã fria de sábado. “Eu vi Titanic aqui e por isso tocamos a música tema do filme para relembrar um pouco essa história”. E história é o que não falta para unir o cinema com o grupo musical. “Os nossos primeiros ensaios aconteceram aqui na praça, em frente ao cinema, em 2011. Esse local é importante para nós e tocar na reinauguração do cinema seria uma honra”. “Reinauguração?” Ao fim do evento, Luna Hahnemann já estava de saída quando ouviu a palavra mágica na nossa entrevista, não resistiu em querer saber mais e depois das explicações revelou que é uma apaixonada pelo cinema. “Ah, se ele voltasse eu viria aqui sempre! Eu viria aqui para ver filmes e também comer pipoca. Só passar na frente já seria uma emoção. O cheiro de madeira da sala de espera é inesquecível. Sonhos de uma vida foram construídos dentro desse cinema. Eu tenho uma relação celular com o Cine Icaraí”. Luna também não esquece o primeiro filme que viu no cinema: “Barry Lyndon, do Stanley Kubrick, magistral”.

Magistral. Essa palavra certamente estaria no título de uma reportagem sobre a reinauguração do Cine Icaraí e com a Orquestra Sinfônica Ambulante tocando trilhas famosas da Sétima Arte. Seria um presente e tanto para os cinéfilos de Niterói. Daria um filme...

* Cineasta e jornalista, Christian Jafas escreve sobre cinema desde 2002 quando criou o blog “Imagem em Movimento”. Já atuou como crítico do site Almanaque Virtual participando da cobertura do Festival do Rio. Dirigiu o documentário “Cine Paissandu: histórias de uma geração” sobre o lendário cinema que formou a Geração Paissandu nos anos 60 e marco de resistência contra a ditadura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário