terça-feira, 25 de novembro de 2014

Conhecendo Niterói

Um passeio pela história da cidade
 Salvador Mata e Silva e Cristina Pontes (especial para o CASA DA GENTE)

Devemos definir Niterói – do Tupi, “Água Escondida”, como o nome dado às margens da Guanabara – “Seio de mar” referência histórica da ocupação e povoamento de uma região que, sem dúvida, consolidou uma ocupação pretendida por estrangeiros, sobretudo os franceses. A cobiça internacional era direcionada principalmente para a extração do pau-brasil e subtração de especiarias.
            Marco significativo para o estudo da história niteroiense foi a fundação da cidade do Rio de Janeiro, em 1 de março de 1565, por Estácio de Sá, oriunda da necessidade de se fixar um novo núcleo colonial. Durante esse mesmo ano, mais precisamente em setembro, ocorreu a primeira distribuição de sesmarias da margem oriental, contemplando Martim Paris como primeiro colonizador do território que hoje compreende o Município de Niterói.
            Na continuidade desse processo, outras sesmarias tiveram importância já que eram visíveis a abundância de reservas de pau-brasil e os últimos conglomerados de índios tamoios. Podemos citar duas sesmarias que merecem destaques: a de Antônio de Marins Coutinho e a do cacique Araribóia, chefe dos temiminós. A primeira no começo do século XVII tornou-se o engenho de açúcar da região (Nossa Senhora das Neves). A segunda, e essa merece destaque, ganhou relevo pelo fato de abranger a maior parte do atual território de Niterói, com a ressalva de que os temiminós não conseguiram ocupar a terra, invadida pelos brancos. Cabe aqui fazer um parêntese, em 1573, Martim Afonso de Souza, nome cristão de Araribóia, tomou posse da sesmaria citada anteriormente, que nada era do que uma légua de terra ao longo do mar por duas de sertão, conhecida como “Barreiras Vermelhas ou Banda d’ Além”.
           
Foi de grande importância a sesmaria de Araribóia, pois ela correspondeu, na verdade, ao centro do atual núcleo urbano niteroiense. Primeiramente, a aldeia de Araribóia progrediu. Foi erguida a igreja de São Lourenço, surgiram choupanas e roças de milho e mandioca. Os indígenas viviam também da caça feita nas matas próximas, da pesca na baía e da fabricação de utensílios de barro e rede. Com o passar dos tempos a aldeia entrou em decadência. O aldeamento foi extinto definitivamente pelo governo provincial em 1866.
            A economia local, com o esgotamento do período do pau-brasil, foi direcionada para a atividade açucareira, que predominou até a abolição, e adaptou-se ao aparecimento da pré-indústria. No século XVII, as grandes fazendas localizadas por toda a região vão dar origem aos “futuros núcleos urbanos”, tais como: o Barreto, Neves, Maria Paula, São João Batista de Icaraí e outros. Já no século XVIII o processo de desenvolvimento foi abalado pela intervenção do Santo Ofício, que perseguiu os cristãos novos que tinham a posse e exploração das terras, gerando uma profunda desestruturação da economia. Na mesma época, a cidade do Rio de Janeiro se beneficiou com o afluxo dos desbravadores das minas e com transporte do ouro.
           
Com a vinda da família real portuguesa em 1808 e após a morte da rainha D. Maria I (a louca), em 1816, D. João VI veio para Praia Grande descansar. Com o alvará de 10 de maio de 1819, promoveu a povoação à categoria de Vila Real da Praia Grande. Instalada em 11 de agosto do mesmo ano, recebeu, dentre as Vilas instituídas pelo primeiro quartel do século XIX, tratamento especial do rei. A Vila englobou as freguesias de São João Batista de Icaraí, São Sebastião de Itaipu, São Lourenço dos Índios e São Gonçalo. Ganhou maior importância com a nomeação do primeiro Juiz de Fora, José Clemente Pereira, que elaborou um plano urbanístico que outras cidades do Brasil desconheciam.
            Em 12 de agosto de 1834 foi promulgado o Ato Adicional, que modificou a Constituição de 1824, em alguns artigos: as províncias tiveram mais autonomia, foi estabelecido o governo de um só regente. A província do Rio de Janeiro (município neutro), deixou de ser a capital da província do mesmo nome.
            Foi então que se escolheu para nova sede da província do Rio de Janeiro, do outro lado da Baía de Guanabara, a Vila Real da Praia Grande (depois de disputar com Campos e Porto das Caixas-Itaboraí). Por decreto imperial de 23 de agosto de 1834 foi a Vila Real da Praia Grande designada para local de reunião da Primeira Assembléia Provincial, instalada a 1º de fevereiro de 1835. Em 26 de março do mesmo ano a Assembléia votou a lei nº 02 criando a província Fluminense, com a Vila Real da Praia Grande, como capital e a lei nº 06 de 28 de março de 1835, elevou-a à categoria de cidade com nome de Nictheroy (Niterói).
            Em 22 de agosto de 1841, na primeira visita oficial à Niterói, D. Pedro II, em agradecimento à boa acolhida à sua família, resolveu conceder à cidade o título de “Imperial Cidade”. A partir de 1845, o Barão de Mauá, fundou na Ponta da Areia e nas ilhas próximas de São Lourenço, grandes estaleiros.
            Foi intensa a participação dos niteroienses na campanha abolicionista e republicana. Destacaram-se vários políticos, jornalistas, poetas e outros. Na cidade, existiram sociedades, clubes e foram realizados congressos em prol da Abolição e da Proclamação da República. Vários niteroienses participaram desses movimentos e passaram para a história do Brasil.
            Durante o período de 6 de setembro de 1893 a 13 de março de 1894, Niterói sofreu com o movimento revolucionário da esquadra do porto do Rio de Janeiro, dirigido pelo Almirante Custódio de Melo. A chamada Revolta da Armada transformou completamente a cidade. O historiador Felisbelo Freire disse: “A resistência de Niterói é uma das belas páginas da Revolta da Armada e que lhe deu o título de Cidade Invicta”.
            A Lei nº 50 de 30 de janeiro de 1894, transferiu a capital do Rio de Janeiro, de Niterói para a cidade de Petrópolis, mas o decreto nº 801, de 6 de junho de 1903, assinado pelo presidente do Estado do Rio de Janeiro, Quintino Bocaiúva, restabelece a capital em Niterói. Em 4 de janeiro de 1904, era criada a prefeitura de Niterói, pelo presidente do Estado Dr. Nilo Peçanha. E o primeiro ocupante foi o Dr. Paulo Alves.
            Em 1906, os bondes, antes puxados a burro, foram eletrificados, serviço inaugurado pelo presidente da República Rodrigues Alves. Com a inauguração do primeiro trecho de iluminação elétrica, surgem os grandes estaleiros e inúmeras fábricas em Niterói.
            Dois anos após, isto é, em 1908, tem início no nosso município o sistema bancário, com a fundação do banco do Comércio do Rio de Janeiro, com duração efêmera. Foi construída a Alameda São Boaventura, o edifício da prefeitura, o paredão nas praias de Gragoatá, Flechas e Icaraí, implantado o sistema telefônico, executada a pavimentação a paralelepípedo de ruas do Centro e de várias outras ruas, além de outras grandes obras.
            Em 1908, inaugurada a estação Hidroviária, com a Companhia Cantareira com nova frota de barcas. Em 1912, foram fundadas a Faculdade de Direito e a Faculdade de Farmácia e Odontologia. No início da década de 20, criou-se a Associação Médico-Cirúrgica Fluminense. Em 1926, a Faculdade de Medicina, dez anos depois, a Faculdade de Medicina Veterinária.
            Na mesma década, durante o governo do Dr. Feliciano Sodré, construiu-se a Praça da República, que abrigava o Palácio da Justiça, a Assembléia Legislativa, o hoje Liceu Nilo Peçanha e a Secretaria de Segurança Pública. Na década seguinte, a Biblioteca Estadual e o Arquivo Público, ambos inaugurados em 1935.
            Em 1940, com a abertura da Avenida Ernani do Amaral Peixoto, o centro da cidade chegou à modernidade, e passou a ter vida noturna. As casas de diversão se multiplicaram, dando ênfase ao Hotel Cassino Icaraí, em cujo “grill-room” se apresentaram dezenas de artistas famosos. Já na década de 50, nasce a Faculdade de Engenharia e é inaugurada a rodoviária que sediou também o departamento estadual de estradas de Rodagem.
            Nos últimos anos, Niterói vem se desenvolvendo com a construção de túneis, estradas, a ponte Niterói-Rio, praças, parques, colégios, a modernização dos transportes, comércio atuante, implantação de indústrias mais variadas, locais de lazer e outros progressos.
            Em 1975, ocorreu a fusão do Estado do Rio de Janeiro com o estado da Guanabara. Niterói deixou de ser a capital do Estado do Rio. Porém, continuou progredindo: cresceu sem grandes saltos, paulatinamente. Apesar de estar bem próxima da cidade do Rio de Janeiro, manteve suas características peculiares.
            Atualmente, possui extensa rede de ensino, abrigando várias Universidades, entre elas a UFF (Universidade Federal Fluminense), a Universo (Universidade Salgado de Oliveira), a Universidade Cândido Mendes, a Universidade Estácio de Sá, a Universidade Anhanguera (antiga Universidade Integrada Plínio Leite), as Faculdades Maria Teresa e outras instituições de nível superior. Podemos ainda observar uma rede bancária eficiente, comércio atuante, indústria razoável, transporte satisfatório e outros segmentos.
            A história de Niterói é história do próprio Brasil. Os fatos e personagens dessa história fazem parte da cultura do nosso povo e servirão de ensinamento para novas gerações.

Cristina Pontes é professora, arquivista, pedagoga, gestora da Rede Municipal de Niterói, escritora, pesquisadora e historiadora. É sócia efetiva do IHGN (Instituto Histórico e Geográfico de Niterói), sócia fundadora do IHGBJ (Instituto Histórico e Geográfico de Bom Jardim) e sócia correspondente da AGLAC (Academia Gonçalense de Letras, Artes e Ciências).      




Salvador Mata e Silva é professor, orientador educacional, jornalista, historiador, historiógrafo, pesquisador, biógrafo, escritor, ensaísta, cronista, poeta, trovador, acadêmico e comendador. Foi fundador de vários institutos históricos, como o Instituto de Pesquisa, estudos e Desenvolvimento de São Gonçalo, e co-fundador da Associação Niteroiense de Escritores. Além disso, é membro da Academia Niteroiense de Letras, Academia Fluminense de Letras e Academia de Ciências e Letras do Estado do Rio de Janeiro, entre outras instituições. É colaborador do Colégio Brasileiro de Genealogia e membro do Conselho Municipal de Cultura do Município de São Gonçalo.



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