Um
passeio pela história da cidade
Salvador
Mata e Silva e Cristina Pontes (especial para o CASA DA GENTE)
Devemos definir Niterói – do Tupi, “Água
Escondida”, como o nome dado às margens da Guanabara – “Seio de mar” referência
histórica da ocupação e povoamento de uma região que, sem dúvida, consolidou
uma ocupação pretendida por estrangeiros, sobretudo os franceses. A cobiça
internacional era direcionada principalmente para a extração do pau-brasil e
subtração de especiarias.
Marco significativo para o estudo da
história niteroiense foi a fundação da cidade do Rio de Janeiro, em 1 de março
de 1565, por Estácio de Sá, oriunda da necessidade de se fixar um novo núcleo
colonial. Durante esse mesmo ano, mais precisamente em setembro, ocorreu a
primeira distribuição de sesmarias da margem oriental, contemplando Martim
Paris como primeiro colonizador do território que hoje compreende o Município
de Niterói.
Na continuidade desse processo,
outras sesmarias tiveram importância já que eram visíveis a abundância de
reservas de pau-brasil e os últimos conglomerados de índios tamoios. Podemos
citar duas sesmarias que merecem destaques: a de Antônio de Marins Coutinho e a
do cacique Araribóia, chefe dos temiminós. A primeira no começo do século XVII
tornou-se o engenho de açúcar da região (Nossa Senhora das Neves). A segunda, e
essa merece destaque, ganhou relevo pelo fato de abranger a maior parte do
atual território de Niterói, com a ressalva de que os temiminós não conseguiram
ocupar a terra, invadida pelos brancos. Cabe aqui fazer um parêntese, em 1573,
Martim Afonso de Souza, nome cristão de Araribóia, tomou posse da sesmaria
citada anteriormente, que nada era do que uma légua de terra ao longo do mar
por duas de sertão, conhecida como “Barreiras Vermelhas ou Banda d’ Além”.
A economia local, com o esgotamento
do período do pau-brasil, foi direcionada para a atividade açucareira, que
predominou até a abolição, e adaptou-se ao aparecimento da pré-indústria. No
século XVII, as grandes fazendas localizadas por toda a região vão dar origem
aos “futuros núcleos urbanos”, tais como: o Barreto, Neves, Maria Paula, São
João Batista de Icaraí e outros. Já no século XVIII o processo de
desenvolvimento foi abalado pela intervenção do Santo Ofício, que perseguiu os
cristãos novos que tinham a posse e exploração das terras, gerando uma profunda
desestruturação da economia. Na mesma época, a cidade do Rio de Janeiro se
beneficiou com o afluxo dos desbravadores das minas e com transporte do ouro.
Em 12 de agosto de 1834 foi
promulgado o Ato Adicional, que modificou a Constituição de 1824, em alguns
artigos: as províncias tiveram mais autonomia, foi estabelecido o governo de um
só regente. A província do Rio de Janeiro (município neutro), deixou de ser a
capital da província do mesmo nome.
Foi então que se escolheu para nova
sede da província do Rio de Janeiro, do outro lado da Baía de Guanabara, a Vila
Real da Praia Grande (depois de disputar com Campos e Porto das
Caixas-Itaboraí). Por decreto imperial de 23 de agosto de 1834 foi a Vila Real
da Praia Grande designada para local de reunião da Primeira Assembléia
Provincial, instalada a 1º de fevereiro de 1835. Em 26 de março do mesmo ano a
Assembléia votou a lei nº 02 criando a província Fluminense, com a Vila Real da
Praia Grande, como capital e a lei nº 06 de 28 de março de 1835, elevou-a à
categoria de cidade com nome de Nictheroy (Niterói).
Em 22 de agosto de 1841, na primeira
visita oficial à Niterói, D. Pedro II, em agradecimento à boa acolhida à sua
família, resolveu conceder à cidade o título de “Imperial Cidade”. A partir de
1845, o Barão de Mauá, fundou na Ponta da Areia e nas ilhas próximas de São
Lourenço, grandes estaleiros.
Foi intensa a participação dos
niteroienses na campanha abolicionista e republicana. Destacaram-se vários
políticos, jornalistas, poetas e outros. Na cidade, existiram sociedades,
clubes e foram realizados congressos em prol da Abolição e da Proclamação da
República. Vários niteroienses participaram desses movimentos e passaram para a
história do Brasil.
Durante o período de 6 de setembro
de 1893 a
13 de março de 1894, Niterói sofreu com o movimento revolucionário da esquadra
do porto do Rio de Janeiro, dirigido pelo Almirante Custódio de Melo. A chamada
Revolta da Armada transformou completamente a cidade. O historiador Felisbelo
Freire disse: “A resistência de Niterói é uma das belas páginas da Revolta da
Armada e que lhe deu o título de Cidade Invicta”.
A Lei nº 50 de 30 de janeiro de
1894, transferiu a capital do Rio de Janeiro, de Niterói para a cidade de Petrópolis,
mas o decreto nº 801, de 6 de junho de 1903, assinado pelo presidente do Estado
do Rio de Janeiro, Quintino Bocaiúva, restabelece a capital em Niterói. Em 4 de
janeiro de 1904, era criada a prefeitura de Niterói, pelo presidente do Estado
Dr. Nilo Peçanha. E o primeiro ocupante foi o Dr. Paulo Alves.
Em 1906, os bondes, antes puxados a
burro, foram eletrificados, serviço inaugurado pelo presidente da República
Rodrigues Alves. Com a inauguração do primeiro trecho de iluminação elétrica,
surgem os grandes estaleiros e inúmeras fábricas em Niterói.
Dois anos após, isto é, em 1908, tem
início no nosso município o sistema bancário, com a fundação do banco do
Comércio do Rio de Janeiro, com duração efêmera. Foi construída a Alameda São
Boaventura, o edifício da prefeitura, o paredão nas praias de Gragoatá, Flechas
e Icaraí, implantado o sistema telefônico, executada a pavimentação a
paralelepípedo de ruas do Centro e de várias outras ruas, além de outras
grandes obras.
Em 1908, inaugurada a estação
Hidroviária, com a Companhia Cantareira com nova frota de barcas. Em 1912,
foram fundadas a Faculdade de Direito e a Faculdade de Farmácia e Odontologia. No
início da década de 20, criou-se a Associação Médico-Cirúrgica Fluminense. Em 1926, a Faculdade de
Medicina, dez anos depois, a Faculdade de Medicina Veterinária.
Na mesma década, durante o governo
do Dr. Feliciano Sodré, construiu-se a Praça da República, que abrigava o
Palácio da Justiça, a Assembléia Legislativa, o hoje Liceu Nilo Peçanha e a
Secretaria de Segurança Pública. Na década seguinte, a Biblioteca Estadual e o
Arquivo Público, ambos inaugurados em 1935.
Em 1940, com a abertura da Avenida
Ernani do Amaral Peixoto, o centro da cidade chegou à modernidade, e passou a
ter vida noturna. As casas de diversão se multiplicaram, dando ênfase ao Hotel
Cassino Icaraí, em cujo “grill-room” se apresentaram dezenas de artistas
famosos. Já na década de 50, nasce a Faculdade de Engenharia e é inaugurada a
rodoviária que sediou também o departamento estadual de estradas de Rodagem.
Nos últimos anos, Niterói vem se
desenvolvendo com a construção de túneis, estradas, a ponte Niterói-Rio,
praças, parques, colégios, a modernização dos transportes, comércio atuante,
implantação de indústrias mais variadas, locais de lazer e outros progressos.
Em 1975, ocorreu a fusão do Estado
do Rio de Janeiro com o estado da Guanabara. Niterói deixou de ser a capital do
Estado do Rio. Porém, continuou progredindo: cresceu sem grandes saltos,
paulatinamente. Apesar de estar bem próxima da cidade do Rio de Janeiro,
manteve suas características peculiares.
Atualmente, possui extensa rede de
ensino, abrigando várias Universidades, entre elas a UFF (Universidade Federal
Fluminense), a Universo (Universidade Salgado de Oliveira), a Universidade
Cândido Mendes, a Universidade Estácio de Sá, a Universidade Anhanguera (antiga
Universidade Integrada Plínio Leite), as Faculdades Maria Teresa e outras
instituições de nível superior. Podemos ainda observar uma rede bancária
eficiente, comércio atuante, indústria razoável, transporte satisfatório e
outros segmentos.
A história de Niterói é história do
próprio Brasil. Os fatos e personagens dessa história fazem parte da cultura do
nosso povo e servirão de ensinamento para novas gerações.
Cristina Pontes é
professora, arquivista, pedagoga, gestora da Rede Municipal de Niterói,
escritora, pesquisadora e historiadora. É sócia efetiva do IHGN (Instituto
Histórico e Geográfico de Niterói), sócia fundadora do IHGBJ (Instituto Histórico
e Geográfico de Bom Jardim) e sócia correspondente da AGLAC (Academia
Gonçalense de Letras, Artes e Ciências).
Salvador Mata e Silva é professor, orientador educacional, jornalista,
historiador, historiógrafo, pesquisador, biógrafo, escritor, ensaísta,
cronista, poeta, trovador, acadêmico e comendador. Foi fundador de vários
institutos históricos, como o Instituto de Pesquisa, estudos e Desenvolvimento
de São Gonçalo, e co-fundador da Associação Niteroiense de Escritores. Além
disso, é membro da Academia Niteroiense de Letras, Academia Fluminense de
Letras e Academia de Ciências e Letras do Estado do Rio de Janeiro, entre
outras instituições. É colaborador do Colégio Brasileiro de Genealogia e membro
do Conselho Municipal de Cultura do Município de São Gonçalo.
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