quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Realidade Virtual Imersiva, nova fronteira do cinema e do olhar

Na mostra "VR: Realidade Virtual", o Festival do Rio exibe gratuitamente curtas com a tecnologia que coloca o espectador dentro do filme

Exibição em VR no Festival Varilux neste ano
Por Cristiana Giustino*

Algumas pessoas já devem ter visto por aí alguém com óculos gigantes se movendo em 360º graus em busca de algo, como se não houvesse nada mais a sua volta. Ledo engano. O sujeito tem algo a sua volta sim, um universo virtual e paralelo. Trata-se de alguém experimentando a sensação da Realidade Virtual Imersiva (ou VR, sigla de virtual reality), seja em um filme, um jogo ou em qualquer outro conteúdo audiovisual com narrativas capazes de se adaptarem a esta nova tecnologia, ainda pouco conhecida entre os brasileiros. Com os óculos de VR, o espectador “entra” na cena do filme, não como um influenciador da narrativa (esse papel, por ora, cabe aos jogos em VR), mas como um voyeur desapercebido.

Em sintonia com os principais festivais do mundo, o Festival do Rio realiza pela primeira vez uma mostra dedicada ao VR, possibilitando que esta nova tecnologia seja experimentada e conhecida pelo público. Entre os dias 12 e 15 de outubro, o Centro Cultural Justiça Federal, na Cinelândia, abriga a mostra, com uma seleção de experiências únicas de imersão total. São obras de ficção, documentário, animação e jogo em VR que poderão ser experimentadas gratuitamente. Mas prepara-se para eventuais filas, já que estarão disponíveis “apenas” 8 óculos. O “apenas” está entre aspas porque estamos falando de uma tecnologia ainda pouco acessível financeiramente. Cada um dos óculos pode sair por cerca de 600 dólares. Mas uma coisa é certa. Se você conseguir assistir a um dos cinco filmes disponíveis, sua concepção de cinema nunca mais será a mesma.


            A experiência VR em "I, Philip", um dos curtas de ficção 
exibidos no Festival do Rio

A Realidade Virtual Imersiva traz consigo uma série de mudanças na nossa percepção do conteúdo audiovisual. No cinema, o VR expande não só o frame, mas também a narrativa, gerando numerosas possibilidades de se contar uma história. O diretor do filme deixa de ter a primazia sobre o direcionamento do espectador, que agora pode olhar para onde ele quiser, até mesmo para o local onde não esteja ocorrendo nada que afete a história contada. Por outro lado, a sensação de imersão no ambiente da narrativa é mais efetiva, ampliando a capacidade de empatia e aproximação emotiva com o tema desenvolvido, o que ocorre especialmente nos documentários em VR. Além dos óculos, principal instrumento da Realidade Virtual Imersiva, existem outras camadas de imersão que ampliam estas sensações, como o 4D, que utiliza som, cheiros e movimentos da poltrona, em salas que já existem nos EUA e na Holanda. Mesmo estando em uma sala de cinema, a experiência deixa de ser coletiva, passando a ser individual, já que a fruição do conteúdo varia para cada espectador.

Grandes diretores já estão filmando em VR. O mexicano Alejandro Iñárritu lançou este ano no Festival de Cannes “Carne e Areia”, filme sobre imigração. E Spielberg está finalizando “Jogador Número 1”. No Brasil, a tecnologia ainda é muito incipiente.“SteptotheLine”, filme dirigido pelo brasileiro Ricardo Laganaro, da O2 Filmes, foi exibido no Tribeca Film Festival 2017. Outros diretores, como Fernando Meirelles, têm projetos em curso.

No Rio de Janeiro, não é a primeira vez que o temos uma ação da proporção proposta pelo Festival do Rio. Em abril deste ano, o Oi Futuro Flamengo abrigou por mais de um mês “Cartas a Lumière”, obra de Fabiano Mixo. No vídeo imersivo, que tem como cenário a Central do Brasil, o artista visual explora as multidões que passam diariamente por lá. Traça um paralelo entre as reações do público do Grand Café de Paris ao primeiro filme dos Irmãos Lumière, em 1895, e a excitação contemporânea diante da Realidade Virtual. Também este ano, o Festival Varilux de Cinema Francês exibiu oito curtas em VR.

MOSTRA VR NO FESTIVAL DO RIO

PROGRAMA 1 (20 min)
Altération - Ficção | França, 2017 (20 min)
Uma viagem poética para o futuro. Alexandro é voluntário numa experiência de estudo dos sonhos. O que ele não sabe é que sofreria a intrusão de Elsa, uma inteligência artificial que analisa e assimila seu inconsciente para se humanizar.

PROGRAMA 2 (38 min)

<<< Sergeant James - Ficção | França, 2017 (7 min)
É hora de Léo ir dormir, mas ele acredita que há alguma coisa estranha debaixo da cama. Seria apenas a imaginação de um menino ou algo mais sinistro?
+
I, Philip - Ficção | França, 2016 (15 min)
Um engenheiro de robótica revela sua mais nova invenção: Phil, um androide que é uma cópia do autor de ficção científica Philip K. Dick.
+
I Am Rohingya - Documentário | Qatar, 2017 (8 min)
Jamalida adora dança. Ela é uma muçulmana Rohingya que, depois de fugir de Myanmar, país que não a considera cidadã, vive em um campo de refugiados em Bangladesh.
+
Oil In Our Creeks - Documentário | Qatar, 2017 (8 min)
Lessi Phillips tinha 16 anos quando um oleoduto explodiu perto de sua aldeia. Quase dez anos depois, ela nos mostra a devastação ambiental que afetou sua comunidade.
Os programas 1 e 2 estão em cartaz continuamente de 12 a 15 de outubro, das 14h30 às 19h.

GAME
The Last Squad - Um jogo Arkave VR Brasil, 2017 (5 min)
Arkave VR é uma arena de jogos em Realidade Virtual onde as experiências mais imersivas, conectadas e emocionantes podem ser vividas. No jogo The Last Squad você deve defender a última base na Terra da invasão de alienígenas.
O game está em cartaz apenas no dia 14 de outubro, das 14h30 às 19h.
O Centro Cultural da Justiça Federal fica na Av. Rio Branco, 241 – Centro. Entrada gratuita.

*Cristiana Giustino é pesquisadora de conteúdo e analista de projetos culturais

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