quinta-feira, 19 de março de 2020

Quantos idosos você convenceu a ficar em casa hoje?


Por Luana Dias

(foto Luana Dias/arquivo Jornal Casa da Gente)
Meu pai tem 77 anos, e - apesar de relutar - faz parte da população de idosos cada vez mais crescente no Brasil. Além disso, é hipertenso e tem problemas cardíacos, o que o coloca oficialmente no grupo de risco de contaminação por coronavírus (e morte). Eu tenho 37 anos; sem doenças pré-existentes, saudável e em idade "ativa", ou seja, a princípio, sou menos vulnerável ao vírus. Por isso, chamo aqui para a conversa outros adultos que, como eu, possam fazer a diferença na vida de um idoso durante este período de quarentena.
Segundo os dados da Secretaria Municipal do Idoso, há 96 mil pessoas maiores de 65 anos vivendo em Niterói, numa população de quase 500 mil habitantes. Muitos deles vivem sozinhos, ou acompanhados de seus conjugues - também idosos. Então, é bem provável que na sua vizinhança ou família tenha algum idoso precisando - e merecendo - atenção especial neste momento. Em primeiro lugar, para convencer a uma pessoa idosa a ficar em casa, é necessário duas palavrinhas: paciência e insistência.
Paciência para explicar diversas vezes - e de diversas formas possíveis - a gravidade do momento, com linguagem simples, direta e - se possível - fazendo referências próximas à sua realidade. Um caso suspeito ou confirmado na sua cidade de residência, ou mesmo a duas quadras de sua casa talvez seja mais eficaz para convencê-lo a se isolar, do que evocar o número de mortos e doentes na Itália ou na Espanha.
Idosos utilizando os serviços bancários
(foto Marcos Santos/USP Imagens)
Agora, vamos ao fator insistência. Não se engane: manter um idoso quietinho em casa não é tarefa fácil. A maioria deles são bastante apegados à sua rotina: desde pequenas compras - do pãozinho fresco ao cabeleireiro - a passeios no quarteirão, cafés, bares, farmácias, banco, tudo é motivo pra dar aquela "saidinha". Mesmo sabendo do "perigo" de contágio, algumas pessoas mais velhas, por viverem sozinhas, não vêem outra escolha senão, aparentemente seguir normalmente suas vidas. Nestes casos, se a gente se limitar ir às redes sociais e repetir #fiqueemcasa ou criticar a atitude dos velhinhos que vemos ainda teimosamente perambulando pelas ruas, não adianta. Pior ainda se os entupimos de vídeos, fotos e textos por whatsapp, aumentando a probabilidade de estar espalhando pânico e fake news para esta população.     
Ter em mente as questões de mobilidade e o perfil psicológico/psiquiátrico de um idoso é também muito importante: sabemos que com a idade, chegam com mais freqüência problemas de saúde que levam ao comprometimento das capacidades físicas e/ou intelectuais ou ainda a distúrbios de comportamento: AVC, confusão mental, Alzheimer, demência,  esquizofrenia, bipolaridade, ou mesmo ansiedade e depressão, a lista é extensa. Tais sintomas são agravados em situação de reclusão, então a atenção (e PACIÊNCIA, sempre bom frisar), precisa ser redobrada. Pais e responsáveis de pessoas com deficiência também devem estar enfrentando as mesmas dificuldades neste período, mas isso seria assunto para um outro artigo.
Neste momento de isolamento social, opte por ações que podem realmente ajudar a manter uma pessoa idosa em casa: fazer uma ligação, e conversar durante 10 minutos, ou mesmo duas horas - dependendo de sua disponibilidade - com alguém idoso que faz parte da sua rede de contatos: desde aquela tia de segundo grau, até a sua sogra, passando pelo vizinho do 1301 - já alivia e faz passar o tempo.
Dispor-se a fazer as compras, ou ainda ajudá-lo a resolver um problema, evitando que saia de casa - como vimos nos ótimos exemplos de cartazes e bilhetinhos que viralizaram nas redes sociais - também é uma ótima iniciativa. Evitando - claro - abraços e beijinhos, e lembrando sempre de lavar bem as mãos ou usar álcool em gel.
E o mais importante: lembrar que esta "batalha" é mesmo um dia após o outro: se puder oferecer seu apoio e atenção de forma constante, ou ainda criar uma rede de afeto e relacionamento que se reveze, com objetivo de monitorar o idoso, melhor ainda.  
Estes são gestos e atitudes que podem fazer com que a pessoa idosa consiga controlar sua ansiedade, mas também afugentar um outro "fantasma" ao qual ela tem muito medo - talvez mais ainda até do que do coronavírus: a solidão. Daí, o combate mais eficaz seja feito com ações - pequenas ou grandes - de solidariedade.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário