segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Correndo pela vida - Sim, nós podemos!


por Ronaldo Arino

Isto é mais do que verdadeiro. Nós podemos sim. Chegar aos sessenta anos de forma saudável é possível, depende muito de nós. Já foi tempo que nesta idade as pessoas eram velhas e, em sua maioria, acomodavam-se em uma aposentadoria, nem sempre saudável.
Tudo bem, as pessoas trabalham muitos anos e tem direito a sua aposentadoria. Esta deveria ser só do trabalho, mas muitas delas se aposentam de tudo. Se acham velhas e não se sentem estimuladas a fazer outras coisas como exercícios físicos, passear, aprender coisas novas, descobrir uma nova faceta para a suas vidas, passear, namorar, etc.
E por que não? Sim, nós podemos. Podem existir algumas barreiras, mas não são intransponíveis. São psicológicas, na maioria dos casos. Claro, chegando aos sessenta devemos ter autocrítica condizente com a idade. É possível namorar, se apaixonar, se feliz e ter o coração pulando pela boca. Mas convenhamos, ser ridículo não.
Como se numa festa uma garota linda parece estar olhando para você, só que a diferença de idade beira lá pelos trinta ou quarenta anos. O primeiro pensamento que devemos ter é, lembrando da personagem da nutricionista de programa humorístico, dizer para nós mesmos: “isto não mais me pertence”! Pronto, está resolvida a questão. De resto, podemos fazer tudo o que quisermos.
Escrevo esta matéria focado nos sessentões, mas gostaria que fosse lido e valorizado por todos a partir dos vinte anos de idade. A saúde da terceira idade é construída no decorrer dos anos. Poderia dar exemplos de muitas doenças mas vou citar a osteoporose. Doença que ataca principalmente as mulheres no período pós menopausa e que, na maior parte dos casos, não apresenta qualquer sintomatologia, é provocada pela diminuição da massa óssea e pode ser prevenida se, desde a infância, tivermos uma dieta rica em cálcio e realizarmos atividade física regularmente.
As repercussões da osteoporose podem ser muito graves. Pessoas com esta doença ficam muito vulneráveis a quedas, muitas delas banais, que podem ocasionar fraturas, sejam elas do colo de fêmur ou de corpos vertebrais, com recuperação arrastada, deixando os pacientes, às vezes, acamados pelo resto de suas vidas.
Posso falar porque daqui a alguns meses vou completar 63 anos. Acredito, até que se prove o contrário, e no meu último check-up estava tudo bem, de forma saudável. Fazendo o que quero fazer, sempre com bom senso. Comendo bem, equilibradamente, realizando atividade física, regularmente, me divertindo e vivendo a vida, felizmente e bebendo meus vinhos e cervejas, moderadamente.
Adorava jogar futebol com os meus amigos. Mas isto também “não mais me pertence”. Hoje corro três vezes por semana e faço musculação outras três. Tudo, vamos dizer assim, normal. Nelson Rodrigues dizia que “toda a unanimidade é burra”, mas todo o radicalismo também.
Ter o colesterol aumentado não é bom. Isto é correto. Mas é necessário que na nossa alimentação comamos algo de colesterol porque ele também tem uma função importante no organismo. O excesso é que deve ser evitado, assim como em tudo.
O aparecimento das doenças tem vários “caminhos”. A causas hereditárias são responsáveis por vinte por cento, os fatores ambientais outros vinte e a dificuldade de acesso a um bom sistema de saúde por dez. Para quem já fez a conta, temos até agora cinquenta por cento dos caminhos disponíveis. A outra metade restante está relacionada ao nosso estilo de vida. É nesta faixa que podemos atuar, estão ao nosso alcance. Depende de nós. Costumo dizer, parodiando o livro, que este é o pedaço do queijo que podemos mexer.
Falo isto porque apesar dos meus exames estarem normais, posso, de repente, ter alguma doença. É possível, mas não deixo de fazer a minha parte e é isto que incentivo a todas as pessoas: “Não deixem de fazer a sua parte”.
O começo não é fácil e pode haver algum grau de sofrimento. A receita é paciência. Não adianta querer mudar de um dia para o outro todos os seus hábitos de vida, até então, ruins. Você não vai conseguir, vai ficar ansioso e achar que é muito mais fácil deixar como está.
Então comece devagar, de preferência com uma boa orientação profissional. Não adianta querer resolver todos os problemas de um dia para o outro se anteriormente você não teve nenhum cuidado com você mesmo. Se quando jovem achava que podia fazer tudo pois seu corpo não reclamava de nada, você estava totalmente enganado. Os que estão com vinte não costumam pensar como vão estar aos sessenta anos. Talvez por isso, fumem, se alimentem mal e não façam atividade física regularmente.
Para quem quiser fazer mudanças em suas vidas para ter melhor qualidade e saúde, algumas dicas:
  • Se é fumante tente parar imediatamente. É difícil devido a dependência química que o cigarro causa, mas existem diversos programas de auxílio em hospitais da rede pública e privada, ou até mesmo, nos planos de saúde privados;
  • Evite açúcar. Doces, coma de maneira parcimoniosa, sempre que possível procurando os “diets”;
  • Beba sempre muita água. Ela é importante para diversas funções básicas do nosso organismo. Pelo menos 2,5 litros por dia é o indicado. Em dias de muito calor, com mais perdas a quantidade ingerida deve ser maior;
  • Coma bem. Folhas, frutas e legumes. Como esporadicamente carne vermelha, prefira peixes e frango. Cinco a seis refeições por dia é o ideal, ou seja, coma mais vezes por dia com menores quantidades em cada uma das refeições.
  • Não abuse dos cafés, chás e refrigerantes;
  • Não esqueça dos exames preventivos, seja homem ou mulher. O homem deve, anualmente, a partir dos 45 anos de idade, ter consultas regulares com o urologista. As mulheres não devem esquecer de realizar, regularmente, o auto-exame da mama e se consultar periodicamente com o ginecologista;
  • Previna-se do câncer de pele usando, sempre, protetor solar e evitando demasiadamente o sol, principalmente no horário das 10 as 16 horas;
  • Faça atividade física de maneira regular, pelo menos três a quatro vezes por semana, procurando aliar atividades aeróbicas (caminhada, bicicleta, corrida, natação) e de força (musculação);
  • Faça exames laboratoriais, pelo menos uma vez por ano, para acompanhamento da sua bioquímica do sangue;
  • Não esqueça da sua carteira de vacinação. Os adultos também precisam ser vacinados e existe um calendário de vacinação dos 20 aos 60 anos que deve ser cumprido. Após os 60 também existe um calendário de vacinação próprio para a faixa etária.
Agora é com vocês. Querem começar por onde?  

Dr. Ronaldo Arino é médico, coordenador de projetos na área de Saúde Ocupacional na Femptec - Fundação de Empreendimentos, Pesquisa e Desenvolvimento Institucional, Científico e Tecnológico do Rio de Janeiro e Diretor da WSO – medicina executiva. Ele também é Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e assina o blog Correndo pela vida – www.correndopelavida.com.br



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