Desenhos de Gisèle Bertin |
Uma pesquisa recente desenvolvida por Luciana Campos, psicopedagoga e pós-doutoranda
em Ciências Sociais, em parceria com Lucy Oliveira, doutora em Psicologia Social,
destaca o papelfeminino em meio ao confinamento social obrigatório vivido durante
a pandemia do coronavírus. As pesquisadoras, ambas professoras do curso de
Licenciatura em Pedagogia ISERJ/FAETEC realizaram um questionário on line com
1011 mulheres, que buscou investigar as modificações de base no seio familiar, e
ainda verificar como o papel da mulher se apresenta nessa nova organização.
"Buscamos iniciar algumas reflexões sobre responsabilidades como
cuidar dos afazeres domésticos e da criação dos filhos na maioria das vezes
ficam como encargo compulsório da figura feminina. Embora as mulheres estejam
atuantes no mundo do trabalho, inclusive destacando-se em vários contextos em
relação ao desempenho masculino, é importante refletir em que medida estas
atribuições do doméstico ao universo feminino mudaram", explicam as
pesquisadoras.
A pandemia leva às famílias a viverem em confinamento, a se relacionarem
obrigatoriamente em tempo total. Assim sendo, o Covid-19 devolve uma estrutura
familiar antiga, nunca vivenciada na modernidade.
"As táticas de sobrevivência diante do isolamento social exigem que
os grupos familiares se reestruturem diante da convivência permanente e
inevitável. São mães e pais que deixam de sair para o trabalho, crianças que
ficam sem creche nem escola. Não tem passeios, nem divertimento fora do lar.
Devem ser recriadas novas formas de convivência e manutenção do equilíbrio
emocional", afirmam as psicopedagogas.
Desenho Gisèle Bertin |
Com a família full time em casa, a quantidade de
afazeres domésticos se multiplica. Quase 28% das mulheres diz que realiza
trabalhos domésticos maiores que o restante da família, 16,6% diz que as
tarefas foram reorganizadas, mas que ainda assim trabalha mais que o (a)
parceiro(a), 16,6% divide as tarefas com o (a) parceiro (a) e também com os
filhos. Apenas 10% diz que as tarefas domésticas são divididas de modo justo na
família.
O acompanhamento das tarefas pedagógicas, já que a maior parte das
escolas continua tendo aulas online, fica em sua maioria por conta da mulher,
com 34,7% e apenas 11,9% dos (das) parceiros (as) dividem igualmente esta
responsabilidade.
O evento que mais preocupa as mulheres que responderam à pesquisa é
relacionada à duração deste tempo de confinamento (48%), seguindo a o
desemprego como a segunda preocupação (19%), 11,7% preocupam-se com o aumento
do próprio estresse e ansiedade e 11,4% com a estabilidade emocional das
pessoas em geral.
Outro ponto importante levantado pela pesquisa é que grande parte das
mulheres notou um acréscimo no índice de ansiedade: 77,3% em contraposição a
22,7% que não verifica aumento de ansiedade.
Dra. Luciana Campos |
"O estresse e a ansiedade decorrentes do confinamento aumentam, o
que é preocupante. As incertezas com relação ao futuro e as mudanças que
ocorreram de maneira rápida e inesperada, favorecem o quadro e acreditamos que
ainda estamos em um momento de adaptação às novas exigências dessa nova forma
de viver. Considerando que muitas pessoas já traziam problemas emocionais, o
agravamento da situação é uma realidade", apontam as pesquisadoras.
Apesar da conjuntura, a maioria das mulheres entrevistadas (91,1%) é
favorável à continuidade da medida de confinamento como estratégia de
diminuição do contágio, contra 8,9% que não é favorável.
Lucy Oliveira |
Embora possa não parecer, nem tudo são mensagens de pessimismo. Vide um
pequeno percentual de casais cuja relação conjugal está ótima: 11,6%, com
aumento de 10,5% de encontros sexuais. Outro ponto positivo: 16% das
entrevistadas mencionam uma justa divisão de tarefas domésticas e 11,9% mediam
em colaboração equânime com o parceiro a vida pedagógica dos filhos.
"Cultivamos a crença de que novos arranjos conjugais estão sendo
gestados. Ou seja, novos homens estão sendo estruturados lado a lado com as
novas mulheres", finalizam as pesquisadoras.
O artigo e a pesquisa completa estão disponíveis na revista Metaxy, daUFRJ .
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