domingo, 19 de abril de 2015

Ainda há cura

Por Vilmar Berna
(Especial para o CASA DA GENTE)

Fotos Vilmar Berna
Não é por que o paciente está em estado muito grave que não se deve tratar de males menores se estiverem mais fáceis de resolver. A Baía de Guanabara, por exemplo, é como um desses doentes graves, internados faz tempo para tratamento intensivo. O problema é que enquanto não se combater o mal em sua origem, a cura permanece distante. O mal que aflige este nosso paciente vem de toda a sua bacia hidrográfica, 15 municípios em sua volta, sem saneamento básico adequado levando mais da metade do esgoto sem tratamento e do lixo não recolhido ou mal depositado para a Baía. As encostas estão ou desmatadas ou perdendo o pouco das florestas que restam para ocupações desordenadas e para queimadas por causa do lixo não recolhido direito. O resultado é agravar o entupimento da Baía pelos sedimentos carregados pelas enchentes para a Baía. E não acabou ainda. Centenas de instalações industriais, muitas de alto poder poluidor, instalaram-se na Baía de Guanabara e, de vez em quando uma sai do controle e o desastre é catastrófico. Quem viu o vazamento da Reduc em 2000 sabe bem do que estou dizendo. Já se passaram 15 anos, mas até hoje a Baía não conseguiu se recuperar completamente. 
Pergunte a qualquer pescador que ele vai contar se pega hoje tanto peixe quanto antes do acidente. E se já não bastasse tanta agressão, ainda inventam um COMPERJ, a montante dos últimos manguezais que sobraram na Baía, onde se abriga o que restou de sua fauna. Um mega empreendimento que já é um desastre ambiental e social sem nem estar pronto, e que só agravará ainda mais a situação da Baía de Guanabara. Este é o legado, não para as Olimpíadas, é o legado que esta geração deixa para as próximas.
         Dizer que a Baía será despoluída em 80% até 2016 com investimentos pífios de 2 bilhões - considerando o tamanho do problema - só pode ser brincadeira de mau gosto de algum piadista. Teria de multiplicar isso por 10, e ainda assim, não seria em um ou dois anos, mas trabalho árduo e continuado para décadas. Se os avanços prometidos pelo antigo Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG) tivessem sido alcançados, o processo de recuperação estaria hoje numa terceira etapa, conforme imaginado naquela época, início da década de 1990. Passados 20 anos, estamos ainda na primeira fase. Lembra a história dos antigos construtores de catedrais da Idade Média. Uma catedral levava de 100 a 300 anos, às vezes 600 anos para ficar pronta, ou seja, quem começava a fazer já sabia que não veria o final da obra, mas se não começasse, se não fizesse a sua parte, o outro que viria depois teria de começar do zero. É o caso da Baía de Guanabara. Muitas vezes, apesar do enorme dinheiro gasto, teve de se recomeçar praticamente do zero.
         Espero que, pelo menos, sejamos capazes de aprender com os erros, assim, nosso paciente grave talvez tenha chances de receber alta em breve.

* Vilmar Sidnei Demamam Berna é escritor e jornalista, fundou a REBIA - Rede Brasileira de Informação Ambiental (www.rebia.org.br ), em janeiro de 1996 fundou o Jornal do Meio Ambiente e, em 2006, a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio Ambiente ( www.portaldomeioambiente.org.br  ). Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas -www.escritorvilmarberna.com.br


Um comentário:

  1. Cura para a nossa Baía há, mas não a curto prazo. Para os Jogos Olimpicos, nem um milagre vai impedir o fiasco internacional. Mas o que importa mesmo é limpa-la para nós mesmos. Tirar os esgotos e o lixo dos pés das nossas crianças e com soluções definitivas. Tirar a diferença de um século no saneamento ambiental.

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