sábado, 6 de abril de 2019

Qual Perfil?


Pesquisa e campanhas refletem sobre o racismo e a sua influência no mercado de trabalho para a juventude negra em Niterói e SG

Paula Latgé *

Você já se questionou se foi vítima de racismo? Ou já se perguntou se teve algum comportamento racista? Falta de oportunidades na educação, mercado de trabalho excludente e preconceito integram a realidade da população negra. Diversos jovens negros escutam nas entrevistas de emprego que "não estão no perfil", mesmo antes de terem seus currículos analisados. Onde se esconde o racismo, se é tão negado pela sociedade? Afinal, aonde vive o racismo dentro de nós?
A pesquisa “A Incidência do Racismo sobre a Empregabilidade da Juventude em Niterói e São Gonçalo” foi desenvolvida pela “Frente PapaGoiaba de Promoção dos Direitos da Juventude Negra” e articulada pela Bem TV - Educação e Comunicação, em parceria com a Faculdade de Estatística da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com o apoio da União Europeia e revelou que, no município de Niterói, 32,7% dos jovens entre 15 e 29 anos está desempregado, mais do que na Síria, em guerra civil. Já em São Gonçalo, 34,7% da juventude não tem emprego. A taxa é maior do que a registrada entre os jovens do Haiti, país mais pobre das Américas.
Entre os dados coletados, há muitos pontos em comum entre Niterói e São Gonçalo, no que se refere à participação da juventude no mercado de trabalho. Nos dois municípios, o índice de desemprego entre jovens está em torno de 30% e a faixa salarial média varia de 1 a 3 salários mínimos. A  maioria dos jovens trabalha no setor privado e com carteira assinada. Na faixa etária entre 15 e 19 anos, além do desemprego ser maior, mais da metade dos que trabalham foram classificados como “autônomos informais”, ou seja, sem nenhum vínculo empregatício.
Mas há diferenças entre as duas cidades. Em Niterói, 60,35% dos jovens se declaram brancos. Já em São Gonçalo, 57% dos jovens se declaram negros (preto ou pardo). A cidade mais branca é também a mais rica: Niterói registrou renda per capita de R$2.000,29 em 2010, enquanto em São Gonçalo a renda per capita no mesmo ano era de R$669,30. Segundo o IBGE, no Brasil a renda per capita hoje é de R$1.268,00. Tais diferenças entre os dois municípios explicam a maior incidência do racismo sobre os jovens no mercado de trabalho de Niterói. Além disso, as políticas públicas pensadas e ofertadas para enfrentar tais problemas não são amplamente divulgadas entre os jovens, ou não os atraem.
Com tais resultados lançados pela pesquisa, foi necessário tomar a iniciativa para reverter o cenário atual. Sendo assim, a Frente PapaGoiaba de Promoção dos Direitos da Juventude Negra assumiu a responsabilidade de mobilizar a população e sensibilizar o conjunto da sociedade fluminense, e, em particular, os empresários e profissionais do mundo corporativo. Essa mobilização deu origem a duas campanhas, com públicos e abordagens diferenciadas mas que se articulam entre si: #QualPerfil? e [r+H].
A Campanha #qualperfil?  é voltada para a sociedade em geral, através da juventude e vêm para contar e apresentar outras narrativas, as histórias que foram silenciadas e que precisam ser ditas. Por sua vez, a campanha [r+H] é direcionada ao segmento de empresários, profissionais de RH e de responsabilidade social corporativa e busca promover recursos mais Humanos, dar visibilidade a experiências positivas no âmbito empresarial para a sensibilização desses atores sociais e assim incidir na possibilidade de mudança deste quadro.
O racismo está na formação base de nossa estrutura social, nas linhas e traços de um país em que ocorreu a escravidão e podemos observar seus reflexos.  Também está dentro de cada pessoa, em seus atos e pensamentos. Fica o convite para cada leitor: tentar romper e desconstruir com o racismo que ainda habita dentro de si, além de conhecer e divulgar nosso site e redes das campanhas #qualperfil e [r+ H]. Como podemos ajudar a superar a distorção que leva à naturalização da discriminação racial, deslegitimado os saberes da juventude negra no ambiente profissional?
*Paula Latgé é estudante de Jornalismo, e atualmente trabalha com comunicação na ONG BemTV.

Saiba mais:
Facebook Recursos + Humanos https://www.facebook.com/RHMaisHumanos/
Site campanha r+H recursos mais Humanos (conteúdos voltados para empresários, profissionais de RH e responsabilidade social)-http://r-m-humanos.pluriverso.online


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