domingo, 3 de março de 2019

Cubango tem seu voo mais alto rumo ao Especial


Saindo aclamada pelo público e pela crítica, agremiação verde-e-branca de Niterói nunca esteve tão próxima de conquistar o tão sonhado título da Série A

Por Luana Dias

O carro abre-alas da Cubango: tradição e respeito às raízes da escola
(Hyrinéa Bornéo/ Jornal Casa da Gente)

Mestre-sala e porta-bandeira erguem o pavilhão da escola
O cronômetro marcava 54 minutos quando o último componente da Acadêmicos do Cubango cruzava a linha de fim do desfile oficial, e as portas se fechavam. Logo atrás, um verdadeiro arrastão de euforia e alegria formado pelo público, que descia das arquibancadas, camarotes, frisas e cadeiras, aguardava para se juntar à Escola, e seguir cantando o samba-enredo com a bateria e os componentes. Gritos de "É campeã" se misturavam às lágrimas de diretores, harmonias e especialmente dos baluartes e componentes mais antigos. Naquele momento, a escola confirmava a sua consagração, colocando-se entre o seleto grupo das favoritas para arrebatar o título de campeã da Série A.
 Fundada em 17 de dezembro de 1959, a agremiação se prepara para completar 60 anos apostando em dois fatores que a consagraram e a diferenciaram ao longo de toda sua trajetória no mundo do samba: o resgate de suas raízes, e a aposta no fôlego e disposição da juventude e da renovação. Prova disso, foi a escolha do enredo "Igbá Cubango - a alma das coisas e a arte dos milagres", de autoria da talentosa, humilde e simpática jovem dupla de carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad.
Comissão de frente: São Lázaro e o
"corpo e alma" da agremiação
(fotos Hyrinéa Bornéo e Marcio Lomba)
O enredo trouxe uma conexão profunda com as raízes da agremiação: foram lembrados o memorável carnaval "Afoxé" de 1979; e São Lázaro. O orixá Omulú, na riqueza do sincretismo religioso brasileiro, e que é o padroeiro e protetor da escola de Niterói, veio na comissão de frente, de "coração e alma", numa linda metáfora transformada em realidade através de um boneco articulado.


O público viu também passar pela avenida a devoção e respeito ao patrimônio imaterial da escola: Mãe Preta e senhor Nilton Bastos, presidente da ala das baianas e presidente de honra da agremiação, vieram representando os "guardiões da memória", como destaque no abre-alas da agremiação.
A riqueza de detalhes, e a profundidade e diversidade da pesquisa realizada pela dupla de carnavalescos se transformou num dos enredos mais festejados da Serie A, de fácil leitura e identificação com o público. A beleza e a harmonia plástica do conjunto de alegorias e fantasias eram destaque.
Não é à toa também, que o belo enredo gerou um dos melhores samba-enredos da safra. De autoria de Sardinha, Samir Trindade e parceria, o samba foi cantado a plenos pulmões pela agremiação, que mostrou também o retorno ao "chão", que sempre foi uma de suas características.
A bateria, comandada por Mestre Demétrius completou a receita de sucesso, dando um show à parte, com a cadência certa, dando espaço para a evolução da escola, e desenhos e bossas que dialogavam com a linda melodia do samba.
Já nas primeiras horas do dia, a escola confirmava seu favoritismo: a escola faturava o prêmio Samba Net de Melhor Desfile da Série A, e o bicampeonato no Estandarte de Ouro de Melhor Escola e Melhor Samba Enredo. A comunidade do mundo do samba festeja, assim, o grande desfile realizado pela agremiação.

Componentes e diretoria chegavam em êxtase na Apoteose
História e tradição
Em entrevista concedida a mim, em 2004, Ney Ferreira, um dos fundadores da escola, e que veio falecer em 2016, contava que a Cubango foi criada a partir do sonho - de Mãe Tiana, Tia Lourdes , de Ney,de Honorinho, Carlinhos Manga Espada e de tantos outros - de brincar o carnaval e ter um lugar onde pudessem também se reconhecer como comunidade.
"A Cubango começou deste sonho de família, de mães, tias e meninos de um bairro simples, que queriam ter o seu lugar pra brincar... e cresceu. A Cubango é muito grande. É a família, é a união de todos aqueles morros, é a comunidade que forma a força que a escola tem,  de defender não só a escola, mas o patrimônio da escola... eu acho que é a alma... Mesmo hoje, quando o samba está muito profissionalizado, é a Comunidade que faz a diferença. E se expande com os novos componentes, que chegam para agregar em paixão".
Ney deixaria ali um recado importante para a escola:
Público das Sapucaí seguia contagiado atrás da agremiação
"Quando eu morrer, eu gostaria de ser lembrado como uma pessoa que lutou como Cubango como eles. Eu quero que continuem com a escola, lutem por ela, e que façam pela agremiação muito mais do que eu fiz, e que coloquem numa posição boa, de destaque".
 Talvez essa seja o momento em que a memória - e o sonho de Ney Ferreira - se tornem realidade. Assim, a festa no Morro do Abacaxi, Morro do Serrão, Morro do Bumba, Travessa Iara, Travessa Vianna, em todo o bairro do Cubango e em Niterói, aguarda em compasso ansioso de espera a abertura dos envelopes na Quarta de Cinzas.

(Luana Dias é jornalista, fotógrafa e sambista, é há 30 anos desfila na Acadêmicos do Cubango) 

2 comentários:

  1. Que venha o tão sonhado reconhecimento que tanto queria o saudoso Ney Ferreira! A CUBANGO deu o melhor de si. Oxalá assim seja!

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  2. A ancestralidade esta nos afirmando como seres humanos. O TITULO virá Igbá Cubango! Coisa linda ! Axé!

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