Saindo aclamada pelo público e pela crítica, agremiação
verde-e-branca de Niterói nunca esteve tão próxima de conquistar o tão sonhado
título da Série A
Por
Luana Dias
O carro abre-alas da Cubango: tradição e respeito às raízes da escola (Hyrinéa Bornéo/ Jornal Casa da Gente) |
Mestre-sala e porta-bandeira erguem o pavilhão da escola |
O cronômetro marcava 54 minutos quando o último componente
da Acadêmicos do Cubango cruzava a linha de fim do desfile oficial, e as portas
se fechavam. Logo atrás, um verdadeiro arrastão de euforia e alegria formado
pelo público, que descia das arquibancadas, camarotes, frisas e cadeiras,
aguardava para se juntar à Escola, e seguir cantando o samba-enredo com a
bateria e os componentes. Gritos de "É campeã" se misturavam às
lágrimas de diretores, harmonias e especialmente dos baluartes e componentes
mais antigos. Naquele momento, a escola confirmava a sua consagração, colocando-se
entre o seleto grupo das favoritas para arrebatar o título de campeã da Série
A.
Fundada em 17 de dezembro de 1959, a agremiação se prepara para
completar 60 anos apostando em dois fatores que a consagraram e a diferenciaram
ao longo de toda sua trajetória no mundo do samba: o resgate de suas raízes, e
a aposta no fôlego e disposição da juventude e da renovação. Prova disso, foi a
escolha do enredo "Igbá Cubango - a alma das coisas e a arte dos milagres",
de autoria da talentosa, humilde e simpática jovem dupla de carnavalescos
Leonardo Bora e Gabriel Haddad.Comissão de frente: São Lázaro e o "corpo e alma" da agremiação (fotos Hyrinéa Bornéo e Marcio Lomba) |
O
enredo trouxe uma conexão profunda com as raízes da agremiação: foram lembrados
o memorável carnaval "Afoxé" de 1979; e São Lázaro. O orixá Omulú, na
riqueza do sincretismo religioso brasileiro, e que é o padroeiro e protetor da
escola de Niterói, veio na comissão de frente, de "coração e alma",
numa linda metáfora transformada em realidade através de um boneco articulado.
O público viu também passar pela avenida a
devoção e respeito ao patrimônio imaterial da escola: Mãe Preta e senhor Nilton
Bastos, presidente da ala das baianas e presidente de honra da agremiação,
vieram representando os "guardiões da memória", como destaque no abre-alas
da agremiação.
A
riqueza de detalhes, e a profundidade e diversidade da pesquisa realizada pela
dupla de carnavalescos se transformou num dos enredos mais festejados da Serie
A, de fácil leitura e identificação com o público. A beleza e a harmonia
plástica do conjunto de alegorias e fantasias eram destaque.
Não
é à toa também, que o belo enredo gerou um dos melhores samba-enredos da safra.
De autoria de Sardinha, Samir Trindade e parceria, o samba foi cantado a plenos
pulmões pela agremiação, que mostrou também o retorno ao "chão", que
sempre foi uma de suas características.
A
bateria, comandada por Mestre Demétrius completou a receita de sucesso, dando
um show à parte, com a cadência certa, dando espaço para a evolução da escola,
e desenhos e bossas que dialogavam com a linda melodia do samba.
Já
nas primeiras horas do dia, a escola confirmava seu favoritismo: a escola
faturava o prêmio Samba Net de Melhor Desfile da Série A, e o bicampeonato no
Estandarte de Ouro de Melhor Escola e Melhor Samba Enredo. A comunidade do
mundo do samba festeja, assim, o grande desfile realizado pela agremiação.
Componentes e diretoria chegavam em êxtase na Apoteose |
História e tradição
Em
entrevista concedida a mim, em 2004, Ney Ferreira, um dos fundadores da escola,
e que veio falecer em 2016, contava que a Cubango foi criada a partir do sonho
- de Mãe Tiana, Tia Lourdes , de Ney,de Honorinho, Carlinhos
Manga Espada e de tantos outros - de brincar o carnaval e ter um lugar onde pudessem também
se reconhecer como comunidade.
"A
Cubango começou deste sonho de família, de mães, tias e meninos de um bairro
simples, que queriam ter o seu lugar pra brincar... e cresceu. A Cubango é
muito grande. É a família, é a união de todos aqueles morros, é a
comunidade que forma a força que a escola tem,
de defender não só a escola, mas o patrimônio da escola... eu acho que é
a alma... Mesmo hoje, quando o samba está muito profissionalizado, é a
Comunidade que faz a diferença. E se expande com os novos componentes, que
chegam para agregar em paixão".
Ney deixaria ali um recado importante para a escola:
Público das Sapucaí seguia contagiado atrás da agremiação |
"Quando eu morrer, eu gostaria de ser lembrado como uma
pessoa que lutou como Cubango como eles. Eu quero que continuem com a escola,
lutem por ela, e que façam pela agremiação muito mais do que eu fiz, e que
coloquem numa posição boa, de destaque".
Talvez essa seja o
momento em que a memória - e o sonho de Ney Ferreira - se tornem realidade. Assim, a festa no Morro
do Abacaxi, Morro do Serrão, Morro do Bumba, Travessa Iara, Travessa Vianna, em
todo o bairro do Cubango e em Niterói, aguarda em compasso ansioso de espera a
abertura dos envelopes na Quarta de Cinzas.
Que venha o tão sonhado reconhecimento que tanto queria o saudoso Ney Ferreira! A CUBANGO deu o melhor de si. Oxalá assim seja!
ResponderExcluirA ancestralidade esta nos afirmando como seres humanos. O TITULO virá Igbá Cubango! Coisa linda ! Axé!
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