Seminário, exposição fotográfica e Mostra de cinema abordam
temática relacionada aos Direitos Humanos
Por Christian Jafas
Seminário realizado no Icict (foto Christian Jafas) |
“É preciso inventar uma nova sociedade.” A frase do
jornalista Paulo Vannuchi define o que foi debatido no Seminário 70 Anos da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, realizado pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), no campus
Manguinhos da Fiocruz, e que abre a mostra que reúne vinte fotografias
relacionadas sobre o tema. Vannuchi, que foi ministro dos Direitos Humanos e
membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA), entre 2014 e 2017,
num momento de descontração comparou o texto publicado em 1948 ao de um poema
épico.
“A declaração é muito bonita. Temos vontade de declamar alguns trechos.
Eu sei que o momento atual é crítico, mas iremos retomar o ciclo
civilizatório.”, disse num tom esperançoso, antes de avançar numa análise
minuciosa das últimas sete décadas. O diretor do Icict, Rodrigo Murtinho,
reiterou a preocupação com o futuro ao destacar a importância do evento e da
mostra fotográfica como um marco:
“Foi tudo preparado com muito carinho. Nós
seremos um local de debate e escuta. Não aceitaremos a censura e tampouco
faremos a autocensura”, afirmou.
História
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi promulgada
pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 10 de dezembro
de 1948 quando o mundo ainda se recuperava dos horrores da Segunda Guerra
Mundial que terminou em 1945 com a detonação das bombas atômicas nas cidades
japonesas de Hiroshima e Nagasaki. A contagem oficial de mortos, feita por cada
país não é um consenso, mas estima-se que entre 50 a 70 milhões de pessoas
perderam a vida no conflito que durou seis anos, devastou a Europa se espalhando
pela África e Ásia.
O texto do documento foi traduzido para mais de 500 idiomas
com o intuito de romper a barreira da língua possibilitando que a defesa dos
direitos humanos se desse em escala mundial. Passados setenta anos do histórico
tratado ainda estamos longe de garantir todos os direitos assegurados no
documento.
Direitos Humanos no Brasil
Paulo Vanucchi (foto divulgação) |
Para entender melhor o que brasileiro anda falando sobre o
assunto, o Instituto Ipsos realizou a pesquisa Pulso Brasil, entre 1º e 15 de abril
de 2018, entrevistando 1.200 pessoas nas cinco regiões do país. A análise dos
dados é preocupante e revela grande desconhecimento sobre o tema. Dos
entrevistados, 56% responderam que os bandidos são os mais beneficiados pelos
direitos humanos ao passo que 29% acreditam que os mais pobres são os menos
beneficiados. O medo de falar sobre o assunto e ser visto como alguém que
defende bandido foi citado por 43% dos brasileiros ouvidos e 54% ainda
concordaram com a frase “os direitos humanos não defendem pessoas como eu”. Outro
percentual alarmante mostra que dois em cada três entrevistados (66%) acreditam
que os direitos humanos defendem mais bandidos do que as vítimas.“A discussão
sobre Direitos Humanos é uma pauta crescente no mundo e não seria diferente no
Brasil. Há uma demanda muito significativa da população que deseja entender
melhor o significado e a atuação dos direitos humanos no país. Esse debate é
extenso, mas no longo prazo ajudará a fortalecer a democracia”, avalia Danilo Cersosimo,
diretor da Ipsos.
O mês de dezembro não marca somente os 70 anos da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, já que o famigerado Ato Institucional Número
Cinco, mais conhecido como AI-5, foi editado no dia 13 de dezembro de 1968.
Assim apenas três dias depois de celebramos as conquistas da carta promulgada
pela ONU devemos também relembrar e questionar os retrocessos que o AI-5 trouxe
aos direitos humanos no país.
Um possível espaço de debate para avançar nas
discussões sobre o tema se dará durante a 12ª Mostra Cinema e Direitos Humanos que
acontece em 26 capitais e no Distrito Federal. A mostra é uma iniciativa do
Ministério dos Direitos Humanos (MDH) e chega ao Rio de Janeiro com extensa
programação de 40 filmes que serão exibidos até o dia 15 de dezembro. Os filmes
abordam temáticas ligadas aos Direitos Humanos, como memória e verdade,
questões de gênero, população negra, população indígena, população LGBT,
imigrantes, direito das pessoas com deficiência, direito da criança, direito
dos idosos, direito da mulher, direito à saúde, direito à educação, diversidade
religiosa e meio ambiente.
O Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz
que “Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que
implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar,
receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por
qualquer meio de expressão”. A Mostra Fotográfica 70 Anos
da Declaração Universal dos Direitos Humanos é gratuita e estará aberta ao público
até o dia 13 de dezembro, no saguão da Biblioteca de Manguinhos. Já a 12ª Mostra
Cinema e Direitos Humanos acontece em diversos cinemas do estado até o dia 15
dezembro.
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