Por Marcella Vieira*
Um dos maiores eventos de cinema do país, o
Festival do Rio dá o pontapé inicial para sua vigésima edição nesta
quinta-feira, dia 1º. Até dia 11 de novembro, pouco mais de 200 filmes de cerca
de 60 países serão exibidos em diversas salas do Rio de Janeiro e de Niterói
para alegria dos apaixonados pela sétima arte. Tradicionalmente realizado em
outubro, as dificuldades causadas pela diminuição de patrocínios – o que já provocou
mudanças no Festival desde o ano passado, quando passou a não ser mais apoiado
pela Prefeitura do Rio, até então sua maior parceira – fez com que o calendário
da maratona cinéfila atrasasse.
Apesar de um número menor de títulos (ano passado
foram cerca de 250), não faltarão grandes estreias de diretores conhecidos e
filmes que passaram com sucesso por festivais internacionais. A começar pela
abertura, que ficará a cargo de “As Viúvas”, de Steve McQueen, diretor do 'oscarizado'
“12 anos de escravidão”. Protagonizado pela premiadíssima Viola Davis, o filme
terá exibição especial no Cine Odeon nesta quinta, a única antes de entrar no
circuito normal, no final de novembro. Já o encerramento será com “O Grande
Circo Místico”, de Cacá Diegues, obra que representa o Brasil na tão sonhada
vaga de indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Trailer de "As viúvas", filme que será exibido na abertura do Festival do Rio
E por falar em filmes brasileiros no Oscar, o
clássico “Central do Brasil”, que também comemora – pasmem! – 20 anos de
lançamento, será exibido em duas sessões especiais, incluindo uma, sábado
(03/11), no Estação Botafogo, que contará com as presenças de Fernanda
Montenegro (indicada a Melhor Atriz pelo filme em 1999), Vinicius de Oliveira e
o diretor Walter Salles. Como parte da mostra Clássicos & Cults, além de “Central...”, outros três clássicos
do cinema nacional serão exibidos em cópias restauradas: “Pixote – A Lei do
Mais Fraco”, de Hector Babenco, e “Rio 40 Graus” e “Rio Zona Norte”, obras
fundamentais e inspiradoras para a geração do Cinema Novo, ambas de Nelson
Pereira dos Santos, o grande homenageado do Festival. Falecido em abril deste
ano, o cineasta foi o criador do curso de Cinema da Universidade Federal
Fluminense (UFF), em 1968, e membro da Academia Brasileira de Letras.
Mostras e diretores consagrados
Sessões de cinema do Festival são disputadas (foto divulgação) |
Além das noites de abertura e encerramento, 10 mostras
darão o tom de pluralidade do Festival. A principal delas, "Panorama do
Cinema Mundial", é a que traz as maiores estreias e os títulos mais
aguardados, quase todos já exibidos em outros festivais nacionais ou
internacionais. Filmes de figurões do cinema europeu, como Lars Von Trier e
Mike Leigh, nomes consagrados do cinema americano, como Spike Lee, Gus Van
Sant, Jason Reitman, Julian Schnabel e Barry Jenkins (de “Moonlight”, vencedor
do Oscar 2017), além dos premiados “Assunto de família” e “Em chamas”, vencedores
da Palma de Ouro e do prêmio da crítica em Cannes deste ano, respectivamente,
“Não me toque”, Urso de Ouro no Festival de Berlim 2018, e “O mau exemplo de
Cameron Post”, Grande Prêmio do Júri de Sundance (principal festival do cinema
independente) no início do ano.
Mostras já tradicionais do evento, como "Expectativa",
"Midnight", "Première Latina" e "Geração", estão
garantidas. "Film Doc", "Midnight Docs" e "Itinerários
Únicos" também integram o pacote, que tem na Première Brasil uma
das maiores vitrines do cinema nacional, algumas das exibições de filmes
responsáveis pelas principais sessões de gala do evento.
Serão 84 produções nacionais (ou coproduções),
sendo 64 longas e 20 curtas. Desse número, 48 longas estarão na "Première
Brasil", enquanto algumas produções nacionais estarão distribuídas em
outras mostras como "Expectativa" ("Palace II – 3 quartos com
vista para o mar" e "Pedro e Inês", uma coprodução Brasil,
Portugal e França), Panorama ("O olho e a faca" e "Cano
cerrado") e Midnight Docs ("Amazônia Groove" e "The
Cleaners", coprodução Alemanha e Brasil).
A Première
Brasil engloba também uma das partes mais aguardadas do evento: as
premiações, tanto por parte do público (que escolhe seus preferidos nas
categorias ficção, documentário e curta) como por parte do júri oficial – que
terá, entre seus integrantes, os cineastas Joel Zito Araújo e Lúcia Murat –,
que elege os melhores também nas categorias ficção e documentário.
Outra mostra competitiva dentro da "Première
Brasil", que também conta com júri especializado, é a "Novos Rumos".
Dedicada às obras de novos diretores com propostas diversificadas de linguagens cinematográficas, ela exibirá sete longas e sete
curtas em sua seleção. Os filmes premiados escolhidos pelos júris oficiais
receberão prêmios de R$ 200 mil para melhor longa de ficção da "Première
Brasil" e R$ 100 mil para melhor longa da mostra "Novos Rumos".
Circuito
e exibições em Niterói
Nos últimos anos, o Festival tem escolhido
diferentes sedes para suas edições. São os QGs do evento, nos quais diversos
profissionais – convidados, imprensa, organizadores e cineastas, entre outros –
se encontram e participam de debates, palestras e conferências que movimentam o
mercado audiovisual da cidade. Espaços
importantes do cenário carioca como o Centro Cultural da
Ação da Cidadania, Armazém da Utopia (ambos na Zona Portuária) e Hotel Nacional
já foram sedes em edições anteriores.
Em 2018, o ponto de encontro do Festival será a
Casa Firjan, espaço recém-inaugurado (aberto ao público em agosto deste ano) em
Botafogo, bairro que reúne algumas das salas mais tradicionais do evento: Estação
Botafogo e Estação Rio, ambas na rua Voluntários da Pátria.
Os outros espaços onde serão exibidos alguns dos
principais títulos do Festival também são bastante conhecidos do circuito
cinematográfico carioca, todos na Zona Sul: Roxy, em Copacabana, Estação Gávea,
Estação Ipanema, São Luiz, no Catete, Instituto Moreira Salles, na Gávea,
Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM), no Aterro do Flamengo.
No Centro da cidade, além do Odeon, o Centro
Cultural da Justiça Federal, na Cinelândia, receberá sessões especiais e
gratuitas de filmes brasileiros da Mostra Geração. Já a Zona Norte conta com um
representante solitário: o Ponto Cine, em Guadalupe.
"D.P.A. - o filme terá exibição gratuita no MAC, em Niterói |
Niterói é a única cidade
fora do Rio a receber a programação do evento. O Museu de Arte Contemporânea
(MAC) receberá sessões ao ar livre nos dias 9 e 10 de novembro, sexta e sábado,
às 19h, com as produções nacionais “Altas expectativas” e “Detetives do prédio
azul – o filme”. Já o tradicional Cine Arte UFF e a sala 1 do espaço Reserva
Cultural de Niterói exibirão diversos filmes das principais mostras.
A programação completa do Festival, com o circuito
de exibição e preços de ingressos, pode ser conferida no site
oficial do evento. A revista com toda a
programação pode ser baixada aqui.
RioMarket
2018
Em paralelo à exibição de filmes, o RioMarket é
tido como a área de negócios do mercado audiovisual do Festival do Rio. A
edição de 2018 será na Casa Firjan, de 5 a 10 de novembro. Com uma intensa
programação, que reunirá mais de 80 palestrantes, o evento leva ao Rio uma
série de seminários, workshops, debates e rodadas de negócios com produtores, players e profissionais da indústria do
audiovisual. Algumas atividades são gratuitas, mas as inscrições prévias são
necessárias para a maior parte dos painéis. A programação e os valores podem
ser consultados em www.riomarket.com.br.
*Marcella
Vieira é jornalista e mestre em Mídia e Cotidiano pela UFF.